terça-feira, 9 de março de 2010

Rótulos

Um fato que me impressiona é o modo como nós, seres humanos, costumamos rotular as outras pessoas. Por exemplo, basta alguém se vestir de preto e usar franja para se dizer que é emo. Ou ter convicções religiosas para ser considerada fundamentalista ou mística. O problema desta abordagem simplista e superficial de criar "pacotes" de comportamentos para distinguir as pessoas é que deixamos de ouvir o que elas têm a dizer. Damos uma olhada nelas e as colocamos em determinado "pacote". Com isto temos a ilusão de que já sabemos o que importa sobre elas e o que elas têm a dizer, porque temos uma lista de itens que caracterizam as pessoas do "pacote".
Li em uma ocasião que as pessoas raramente perguntam, ao ouvir algo, se aquilo é verdade, mas ao invés: "quem acredita nisto?" E se aqueles que têm mais prestígio entre elas, como phds ou líderes religiosos, ou ainda, a maioria, não acredita naquilo, então elas também não. Desta forma, renunciam ao próprio raciocínio e se submetem ao julgamento de outros.

Palavras são ouvidas, mas o preconceito impede que os argumentos sejam avaliados imparcialmente. Contaram-me sobre um filme que foi feito a respeito de um caso que aconteceu nos Estados Unidos há anos atrás. Uma menina negra foi estuprada por um homem branco e seu pai matou o estuprador. O pai foi preso e ia receber uma forte condenação. O advogado fez sua defesa esmiuçando os terrores pelos quais a criança passou e o que ela sofreu, mas o que foi crucial na decisão dos jurados foi a frase com a qual ele terminou seu relato: "Agora imaginem que esta menina era branca."

Da próxima vez em que você encontrar alguém, esqueça suas roupas, sua posição social, sua cor, sua opção sexual, sua religião e imagine que esta pessoa é alguém que tem credibilidade no seu conceito. Feche os olhos e imagine que é aquela pessoa falando. O que ela diz faz sentido?

Obs: Não defendo a posição de se fazer justiça pelas próprias mãos, mas, este caso do pai não podia ser igualado ao de alguém que planejou um assassinato ou que matou durante um assalto.

5 comentários:

  1. Engraçado é que a maioria das pessoas faz isso e ao mesmo tempo diz que odeia rótulos.

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  2. Muito bom o texto!

    É quase inivitável encaixarmos as pessoas em pacotes, tendemos a tentar entendê-las com base em "análise estatística" superficial. Acho que o problema principal surge quando deixamos que esses nossos preconceitos nos impeçam de entender os outros como, de fato, eles são (ou aproximadamente). Por isso acho que processos periódicos de auto-reciclagem mental podem ser úteis... =)

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  3. É verdade minhas bloglósofinhas prediletas. Tenho orgulho destas meninas.

    Beijo paras as duas.

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  4. Rotulando: Você é de Peixes, certo?

    Hehe...

    Como bom mentiroso compulsivo (que é quase como um alcóolatra anonimo... nuca se deixa de ser, sempre temos que ficar vigilantes para não cairmos no erro novamente), tenho estudado mais e mais a natureza da verdade.

    E comento que a verdade é o que é falado primeiro - mesmo que seja mentira. As pessoas aceitam, desde que seja o mínimo plausível de acontecer. Então, a próxima pessoa que fala - mesmo falando a verdade - deverá argumentar para provar que a primeira idéia é mentira e que a sua idéia é verdadeira.

    Por isso que existem os exteriótipos: as pessoas julgam sem saber e, muitas vezes, não são corrigidas. Então, como o primeiro adjetivo que foi falado para "Emo" é "homossexual", todos aceitam, sem ao menos conversar com um "Emo"...

    Tudo isso, fruto da ignorância e comodismo da humanidade.

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