terça-feira, 1 de março de 2016

Reflexões sobre a Morte

Depois de uma longa pausa, estou retornando ao meu blog. E, para este retorno, resolvi tratar de alguns temas bem controvertidos: morte, Deus, fé e Ciência. Embora, no momento, essa seja apenas uma reflexão sobre a morte.

Minha vida acabou de passar por alguns daqueles tipos de acontecimentos que puxam o tapete debaixo dos pés e têm o poder de revirar tudo!
Meu pais faleceram em 2014. Eles estavam bem idosos e, é claro, eu sabia que eles iriam morrer um dia. Eu achava que tinha, finalmente, entrado em um acordo razoável com a morte. Algo assim: ela existe, significa o fim da existência, não é temível e todo mundo vai passar por ela. Uma fórmula bem simples para lidar com esse conceito. Porque quando se é jovem a morte parece uma coisa distante: só um conceito abstrato!

Minhas experiências com a morte foram bem limitadas até 2014. Durante minha adolescência vivi alguns momentos de muita depressão e uso de drogas. Nessa época, até tentei suicídio uma vez. Foi uma tentativa bem titubeante, por causa da sensação de incerteza sobre o que me aguardava. Quando criança, a idéia da morte me apavorava, pelo motivo de que parecia desolador simplesmente não existir mais depois de todo o turbilhão de emoções que é viver! O problema é quando viver se torna extremamente doloroso! O que pessoas que passam por isto querem não é a morte, mas simplesmente pararem de sofrer tanto! A morte parece a única forma de atingir esse objetivo.

A questão é que, quando a pessoa não se mata, aquilo que parecia um sofrimento sem fim se modifica. Porque a pessoa aprende a lidar com o que parecia sem solução, ela aprende a lidar melhor com as próprias emoções. Isso até ela se encontrar com novos obstáculos e pensar na morte outra vez. Então vai ter que aprender a lidar com esses obstáculos também. Nem sempre isso vai acontecer, porque, às vezes, a pessoa não consegue crescer, ela usa medicamentos e atitudes que a "congelam" numa atitude de negação e autoproteção. Não tenho nada contra medicamentos para depressão e outros problemas psicológicos. Acho que eles foram feitos para ajudar as pessoas a conseguir viver com problemas muitas vezes intoleráveis. O que acontece, infelizmente com alguma frequência, é que, para algumas pessoas, as dificuldades a serem vencidas não têm a ver com a forma como elas as enfrentam, não são o modo como elam reagem às situações, mas o fato de existirem coisas que lhes causam sofrimento. O que as pessoas fazem é se proteger dessas coisas externas. O remédio e o evitar situações desagradáveis servem de escudo para se protegerem do mundo hostil. Não percebem que enfrentar o mundo hostil e controlar as emoções é a única coisa que faz com que alguém realmente supere os obstáculos e cresça. Crescer pode ser doloroso, mas é necessário. Porque, do contrário, tanto faz continuar vivendo se passamos pela vida sem ter saído de dentro de uma casca! É como participar de uma corrida de obstáculos contornando todos eles! Você não participou de fato da corrida, só fingiu que sim. Daí quem passa a vida tentando se proteger de sofrimentos e evitando toda a situação desagradável, não viveu de fato! Não experimentou a recompensa pelos esforços, porque evita esforços. Não apreendeu o sentido da vida, porque viveu só pra si, em uma concha.

O que aconteceu comigo, recentemente, foi o choque que ocorreu entre as idéias que eu usava para enfrentar um fenômeno distante de mim e a realidade de enfrentar esse fenômeno cara à cara. A morte, infelizmente, não recompensa aquela sua idéia romântica de que, depois de uma vida intensa de muitas realizações, um dia você simplesmente adormece calmamente depois de se despedir devidamente de toda a família! Não, primeiro você vai perdendo, cada dia um pouco mais, tudo o que tinha e era! Se você era rico e orgulhoso ou pobre e ansioso, não faz mais diferença depois de algum tempo! E isso porque, muito frequentemente, você não morre de repente. A não ser naqueles casos em que a pessoa morre de acidente ou de mal súbito, ela vai perdendo a capacidade de desfrutar da própria vida e das coisas que antes gostava, até perder a si mesma, sua memória e aquilo que fazia dela o que ela era. E isso não é só nos casos de Alzheimer ou demência avançada. Porque a mente e o corpo vão ficando cansados e incapazes de fazer os mesmos esforços. Tem um pequeno instante, entre a morte e a vida, em que você ainda não foi, mas já não está mais aqui. E esse momento é muito triste! Quando você é o espectador desse fenômeno e pode apenas olhar a vida dos seus entes queridos escorrendo pelos dedos sem ao menos conseguir produzir um real confôrto, porque eles já estão escapando do seu alcance, isso é muito terrível! Talvez a coisa mais terrível que eu já tive de enfrentar na minha vida!

É estranho como as palavras de pessoas que nunca passaram por isto soam nos seus ouvidos nesse momento: "Faz parte da vida" ou "É a vida, todos vão morrer". Soa estranho porque você já pensou isso, já disse isso alguma vez. E, principalmente quando as pessoas que morreram eram idosas, você pensa que é natural esperar que elas irão morrer logo! Não é nenhuma surpresa! Claro que não! Quando é o seu vizinho, um parente pouco chegado, um estranho, ou quando você não acompanhou todo o processo de morrer, passo a passo, pelo qual a pessoa passou. Quando você não morreu com ela, hora a hora, dia a dia, minuto a minuto, sempre um pouquinho mais e tentou, desesperadamente, evitar a dor, o sofrimento e a perda até da dignidade para aquela pessoa! Quando ela finalmente atravessa os portais de além da vida, você pensa: "Como assim, porque ainda estou aqui? Eu andei todo o caminho com ela, passei por todo o processo até a morte! Agora ela foi e eu fiquei! O que eu faço?"

Eu não tenho perguntas do tipo: por que existe a morte? O que ocorre depois da morte? Por que existe o sofrimento? E existe um Deus? Essas são perguntas que eu já respondi para mim mesma. São perguntas que fiz naquela ocasião da tentativa de suicídio.

Acho que a diferença entre as minhas perguntas e as daqueles que deixam de crer em um Deus ao se deparar com esse tipo de questão é que eu as fiz diretamente para Deus. Meu raciocínio foi o seguinte: Se existe um Deus, Ele deve ser capaz de me responder essas questões e, se não, quero saber que as coisas são assim justamente por esse motivo. Quero que as respostas sejam o que elas realmente são e não o que eu quero que sejam! E as respostas foram chegando, não todas de uma vez, porque envolve muitas coisas e coisas profundas. Contudo, elas estão ao alcance de qualquer um que realmente queira entender. As respostas não se encontram simplesmente na fé ou na Ciência. Elas abrangem tudo isso, mas ninguém precisa ser expert para entender, embora quanto mais se aprenda mais claras as respostas vão se tornando.

Pretendo entrar em mais detalhes em posts subsequentes.