sábado, 6 de março de 2010

Darwin e Origem das Espécies

Há mais ou menos um ano eu li o livro de Darwin On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Terminei o curso de Biologia, fiz mestrado e nunca tinha lido este livro. E o que me surpreendeu foi que ao invés de me entediar, achei muito interessante. Gostei muito da leitura. Aproveitei o impulso e li a biografia de Darwin, afinal, o mundo estava comemorando os 150 anos de A Origem das Espécies e os 200 anos do nascimento de Darwin. Na ocasião, escrevi algumas coisas em função do que li e transcrevo uma parte delas aqui.

Em 1859, foi publicado o livro de Charles Darwin, A Origem das Espécies (em inglês: On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Na introdução de seu livro, Darwin descreve como chegou a ele e às conclusões ali expressas.

Darwin relata que, durante sua viagem a bordo do Beagle, alguns fatos pareciam lançar "alguma luz sobre a origem das espécies". Em seu retorno, pareceu-lhe que algo poderia ser feito a respeito desta questão por pacientemente reunir fatos e refletir sobre eles. Após cinco anos, ele se permitiu "especular sobre o assunto" e redigiu algumas notas que ampliou em 1844 em um esboço das conclusões. Três anos mais tarde, sua obra estava quase finalizada. Ele informou que seu "resumo" estava "necessariamente imperfeito" e que ele não podia fornecer "referências e autoridades" para suas declarações, em que, sem dúvida, seriam encontrados "erros". Ele sentia necessidade de publicar, posteriormente, em "detalhes todos os fatos, com referências", sobre os quais suas "conclusões estavam baseadas". Ele estava cônscio de que "escassamente um único ponto foi discutido neste volume a respeito do qual não podem ser aduzidos fatos".

Darwin inicia sua reflexões sobre a origem das espécies descrevendo as variações induzidas pelo homem em espécies de plantas e animais domésticos. Em seu próximo capítulo ele relata a ampla variação que ocorre dentro das espécies na natureza, dificultando, muitas vezes, o classificá-las como variações ou outras espécies. Ele sugere que estas variações fariam parte do processo de surgimento de novas espécies. A seguir, é delineada a luta-pela-existencia, baseada nas idéias de Malthus, com a conclusão de que pequenas mudanças em uma espécie, de algum modo favoráveis, seriam retidas e passadas às próximas gerações, configurando-se assim uma "seleção-natural", que seria realizada pela natureza ao invés da seleção artificial realizada pelo homem. A luta pela existência
levaria à inevitável extinção de espécies menos adaptadas. O processo da seleção natural de espécies mais adaptadas seria contínuo e lento, acumulando variações ao longo de extensos períodos geológicos. Durante sua viagem no Beagle, Darwin leu o livro Princípios da Geologia de Charles Lyell, que
propunha longos períodos de tempo de mudanças graduais para o estabelecimento das configurações geológicas.

Entre os sexos, a seleção ocorreria não devido a uma luta pela existência, mas a uma disputa entre os
machos pelas fêmeas, sendo vitoriosos e produzindo descendência mais numerosa os machos mais fortes ou aqueles portando características mais atraentes para as fêmeas. Isto determinaria que estas características fossem fortalecidas na espécie enquanto as dos machos menos bem sucedidos enfraquecidas e, talvez, até extintas. O isolamento geográfico seria um elemento importante na seleção natural, pois detendo a imigração de variedades mais adaptadas e a competição, premitiria a uma outra variedade ser lentamente aprimorada e produzir uma nova espécie. A seleção natural levaria a divergência de caracter: quanto mais seres vivos existissem na mesma área, mais eles divergiriam em estrutura, hábitos e constituição.
Na luta das espécies para aumentaram seus números, quanto mais diversificados os descendentes se tornassem melhores seriam suas chances de sobrevivência.

Como motivo para não se encontrarem especies-intermediarias no registro-geologico, Darwin alega a extrema imperfeição deste registro. Comenta as dificuldades de preservação dos fósseis. Partes moles não podem ser preservadas, partes duras como conchas e ossos se desfazem quando depositadas no fundo do oceano, onde sedimento não se acumula. Restos que são envolvidos por areia ou cascalhos são dissolvidos por percolação da água da chuva por ocasião do erguimento do leito. O sedimento acumulado deveria ser extremamente espesso, sólido ou formado por extensas massas para resistir à incessante ação das ondas quando erguido e sofrendo posteriores oscilações de nível. Uma camada fossífera espessa e extensa só poderia se acumular durante um período de subsidência, mas o mesmo movimento de subsidência tenderia a afundar a área fazendo derivar o sedimento. Seria necessário um equilíbrio exato entre a subsidência e o suprimento de sedimento para preservar o registro.

Em sua revisão do livro, no último capítulo, Darwin declara que acreditava que todos os animais descendiam de, no máximo, quatro ou cinco progenitores e as plantas de um número menor ou igual. Ele escreve que, a partir das semelhanças entre todos os seres vivos, tais como composição química, estrutura celular e leis de crescimento e reprodução, ele infere que provavelmente todos os seres orgânicos tenham descendido de uma única forma primordial. ...

Deixando de lado as definições e considerando a obra de Charles Darwin, A Origem das Espécies, é inegável que ela é extremamente coerente, produto de amplas observações da natureza e profundas reflexões, das quais ele conseguiu extrair alguns fatos e princípios bem estabelecidos, como variações, seleção natural e características fixadas e herdáveis nos organismos.

Por mais que o raciocínio de Darwin tenha sido brilhante e encontre correspondência na natureza, sua obra não pode ser chamada de teoria, do ponto de vista rigorosamente científico, senão no sentido popular da palavra. Isto porque, como já foi mencionado [no texto original],
uma teoria, cientificamente falando, é uma estrutura matemática. Outras definições para a palavra teoria nos fariam cair no terreno inseguro das racionalizações e paradigmas humanos elevados a categoria de verdades absolutas que não podem ser contestadas unicamente porque alguns seres humanos acreditam que seu raciocínio é melhor do que o dos outros.

Darwin, no entanto, na introdução da "Origem", se mostrou consciente de que suas reflexões eram especulações, como ele mesmo disse, de que sua obra estava imperfeita e incompleta e de que faltavam fatos para aduzirem suas idéias. Por mais que algumas idéias pareçam boas, é preciso que se tenha em mente que quando as coisas são devidamente formalizadas em uma estrutura matemática, surgem muitos dados que não se consegue prever com o raciocínio não formal.

Uma declaração de Darwin, por exemplo, que hoje é tratada como um fato que não pode ser contraditado, pelo menos não se admite outra explicação, é a de que todos os seres orgânicos teriam descendido de poucas ou de uma única forma primordial. Ele conclui isto baseado em semelhanças entre todos os organismos. Isto é uma hipótese, que não foi devidamente testada, diga-se de passagem, pode ser uma boa hipótese, mas é apenas isto.

Existem muitas observações, experimentos, técnicas e modelos computacionais e matemáticos sendo relizados para esclarecer mecanismos de especiação, seleção, proximidade e divergência entre espécies (baseadas no genoma, por exemplo).
Mas quanto eu saiba, não existe nenhum experimento, modelo computacional ou matemático demonstrando (que não seria a mesma coisa que mostrar que é possível) que todos os organismos vivos têm um único ancestral comum.

Dez trilhões de cientistas acreditando em uma idéia não tornam esta idéia mais científica do que qualquer outra se ela não pode ser demonstrada.

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