domingo, 12 de dezembro de 2010

Misticismo X Racionalidade: a religião na história antiga

Continuando o tema proposto em Misticismo X Racionalidade, eu pretendo explorar um pouco as evidências na história humana de que pode haver uma religião fundamentada na crença em um Ser sobrenatural (acima e além da Natureza) que não seja mística, ou "uma religião de mistérios". Pode haver uma religião baseada em evidências e que pode mudar de acordo com elas.

Aqui, usamos a expressão "religião baseada em evidências" associada a dois sentidos:
(a) existem evidências que podem ser usadas para avaliar afirmações dessa religião e
(b) os ensinamentos dessa religião estimulam não uma fé cega, mas uma fé racional,
isto é, uma confiança desenvolvida pela avaliação de evidências.

Nesta série de posts, estamos abordando algumas informações relacionadas com esse tipo de religião.

Este tipo de religião, embora sendo uma manifestação rara em nosso mundo em termos de contingente humano engajado nela, tem tido um impacto significativo em todos os setores da sociedade humana ao longo dos séculos.

Existem evidências, por exemplo, de que vários dos conceitos e histórias escritos nos livros da Bíblia já eram conhecidos de vários povos ao longo do globo muito antes de serem escritos os primeiros livros bíblicos.

Antes de discorrer sobre os eventos e evidências relacionados à religião bíblica na história, faz-se necessária uma descrição suscinta do que compõe essa religião. Ela centraliza-se na revelação do Deus bíblico e traz uma mensagem que foi escrita em 66 livros por cerca de 40 autores ao longo de mais de 1500 anos. Os livros de Isaías e Ezequiel contam a história do início do mal no Universo, quando um dos seres criados por Deus, usando sua liberdade de escolha iniciou uma rebelião contra o governo de Deus e perdeu sua posição original neste governo. Esta rebelião foi permitida continuar a existir para que fossem julgados pelos seres inteligentes os seus efeitos e todos pudessem fazer suas escolhas a favor ou contra. No livro de Gênesis, encontramos o relato da criação da vida na Terra e a história da escolha dos seres humanos de ficarem do lado da rebelião. Como essa escolha não foi totalmente deliberada, mas os seres humanos foram ludibriados, eles receberam um tempo de teste do governo de rebelião na Terra. Deus, embora não se manifestando de forma direta aos seres humanos depois de sua rebelião, elaborou um plano para esclarecê-los e resgatá-los para o estado de harmonia com Ele novamente. Aceitar ou não este plano é uma questão individual de cada ser humano pensante. A Bíblia conta a história destas duas rebeliões, da promessa de um Redentor, da perda exponencial por parte dos seres humanos da capacidade de compreender e aceitar a Deus e seu plano, à medida em que faziam más escolhas. Fala do consequente embotamento das faculdades morais e de discernimento claro entre o bem e o mal, do dilúvio, da escolha de pessoas para serem porta-vozes de Deus, da escolha do povo de Israel para se tornar um exemplo para os outros povos das características do governo de Deus sobre a Terra. Apresenta Israel como a nação da qual surgiria o Redentor, as profecias sobre eventos relacionados com o plano de redenção e desdobramentos históricos das ações humanas, os constantes afastamentos do povo de Israel do plano de Deus, a divisão do povo de Israel em dois reinos, o esfacelamento da maioria de Israel pelos assírios e o cativeiro babilônico dos judeus. Descreve o retorno do exílio e a recontrução da nação, a vinda e rejeição do Redentor pela maioria dos judeus, sua morte e ressureição e o início da igreja cristã. Termina com profecias de eventos ocorrendo desde o início da igreja cristã até o encerramento da história da rebelião no Universo. Durante o período de teste para a humanidade, os seres inteligentes do Universo devem perceber a diferença entre viver sob a direção de Deus e fazer de sua lei a norma de vida e o viver sob o domínio da satisfação própria, em um contraste entre a lei do amor e a lei do egoísmo.

É bom lembrar que cada parte desse todo foi escrita por pessoas bem diferentes ao longo de muitos séculos e que, na maioria das vezes, não tinham uma visão clara do que elas mesmas estavam escrevendo. Outro detalhe é que fica difícil compreender a Bíblia por uma leitura ocasional, cada parte depende das outras e a compreensão dos símbolos proféticos depende da compreensão da história toda e do conhecimento dos símbolos que aparecem em outras profecias, ou seja, se você não mergulhar no todo, não vai entender as partes. Apocalipse, por exemplo, que é uma palavra grega que significa revelação (não um mistério, foi escrito para ser entendido), usa símbolos tirados do Gênesis, da história de Israel no Antigo Testamento, das profecias de Daniel, dos livros dos profetas menores e da história dos evangelhos e início da igreja cristã no Novo Testamento. Enfim, se a pessoa for ler com má vontade, preconceito e visão superficial, não vai entender e encontrará muitas contradições.

Mais uma observação que cabe neste momento é a de que a Bíblia pretende ser um conjunto de livros inspirados, mas não ditados, por Deus. Isto significa que as idéias subjacentes vieram de Deus, mas a linguagem é humana, expressa com as limitações culturais, de entendimento e de conhecimentos do autor de cada livro. Outro aspecto que se destaca indiscutivelmente ao longo da história bíblica é o fato de Deus lidar com os seres humanos levando em conta sua capacidade de absorver conceitos novos em cada época, ou seja, a revelação é gradativa e as responsabilidades também crescem com o grau de progresso do ser humano.

Tendo em conta as informações prévias, gostaria de apresentar, primeiramente, evidências de que as histórias da criação, da queda de Adão e Eva, do dilúvio e da torre de Babel que aparecem em Gênesis, fazem parte das tradições de diversos povos por todo o globo, muitas delas mais antigas do que a escrita do livro de Gênesis.

"Milhares de tabletes cuneiformes foram escavados na região que compreende a antiga Mesopotâmia.
Eram recibos, cartas, leis, documentos de propriedade, etc. Alguns continham listas genealógicas e histórias tradicionais sobre os primórdios da humanidade. Ao avaliá-los, qual não foi a surpresa dos arqueólogos ao perceberem que muitos traziam semelhanças bastante acentuadas com o que seria posteriormente escrito na Bíblia.

"Uma extraordinária coincidência foi percebida, por exemplo, na forma como os antigos documentos
egípcios e mesopotâmicos chamavam o primeiro ancestral da humanidade: Adamu, Adime, Adapa, Alulim, Alorus, Atûm, Adumuzi, etc. ...

"Ao contrário de ser um plágio, o Gênesis possui características de ser quase uma 'correção' daquilo que o antecede. Prova disso é o fato de que, dentre todos os textos, ele é o único que assume um monoteísmo clássico em meio a versões milenares que preferiam atribuir aos 'deuses' a obra de criação e julgamento do planeta Terra.

"Até mesmo Levi-Strauss que considerava o relato da criação um mito foi forçado a admitir que 'grande surpresa e perplexidade surgem do fato de que esses temas básicos para os mitos da criação são mundialmente os mesmos em diferentes áreas do globo', principalmente fora do Oriente Médio. (Claude Levi-Strauss, 'The Structural Study of Myth', em Structural Anthropology, (New York: Basic Books, 1963), p. 208.)" Rodrigo P. Silva, "Escavando a verdade - A arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia". São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 2008, p.p. 48 e 50.

Em textos sagrados muito antigos do Egito (~3000 a.C.), The Pyramid Texts (http://www.sacred-texts.com/egy/pyt/index.htm), Atum aparece como um deus, ele é considerado um dos deuses mais antigos do Egito. Ele foi primeiramente considerado um deus da terra e, depois, foi associado com Rá, o deus sol. Os sacerdotes da cidade de Heliópolis, consideravam Atum como o primeiro ser que emergiu das águas de Nun (espécie de águas primordiais) na criação. Entre seus filhos houve Set, que matou um de seus irmãos, Osíris (http://www.egyptianmyths.net/atum.htm). Embora existam muitas diferenças básicas entre estas concepções religiosas e a narrativa bíblica, encontramos similaridades em alguns pontos: na criação da vida na Terra, o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas (Gênesis 1:2), Adão foi o primeiro ser humano criado, o nome de um de seus filhos foi Sete, um dos filhos de Adão, que foi Caim e não Sete, matou seu irmão, Abel.

"Saindo do Egito para a Mesopotâmia, encontramos ainda outra grande variedade de mitos, com curiosas semelhanças com um ou outro aspecto da cosmogonia bíblica. O conto de Enki e Ninhursag, mais conhecido como o 'mito do paraíso', foi escrito por volta do 2º milênio a.C. Nele, os deuses criaram os céus, a Terra e os homens. Eles os colocam no paraíso idílico de Dilman e, para curar a costela de Enki, fazem surgir uma mulher e lhe dão o nome de Nin-ti, cujo signifcado seria 'rainha dos meses', 'senhora da costela' ou 'aquela que faz viver'. Ora, Eva também foi criada a partir de uma costela de Adão e seu nome hebraico (hawwa) é associada etmologicamente ao verbo 'viver'.

"O Enuma Elish é outro importantíssimo documento que também possui muitos paralelos com o relato bíblico. O texto foi primeiramente encontrado nas escavações da biblioteca real de Assurbanipal, que ficava na cidade de Nínive e data do 7º século a.C. Porém, outros fragmentos mais completos foram encontrados posteriormente em Kish. Ao todo são sete tabletes que descrevem a criação do mundo dividida em sete partes (como o Gênesis que a divide em sete dias)." Rodrigo P. Silva, "Escavando a verdade - A arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia". São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 2008, p.p. 53 e 54.

Os relatos da criação nestes sete tabletes apresentam inúmeras semelhanças com o relato bíblico da criação. Por exemplo, os dois falam do sugimento do céu e da Terra, da pré-existência do espírito divino, de caos e trevas primitivas, a luz emanando dos deuses ou de Deus, criação do firmamento, da terra seca e dos luminares, criação do homem na sexta etapa ou sexto dia e dos deuses ou de Deus celebrando a criação na sétima etapa ou sétimo dia (ibidem).

Foram encontrados quatro tabletes cuneiformes sobre uma história tradicional da Mesopotâmia, três da biblioteca de Assurbanipal e um mais extenso e antigo (século 14 a.C.) dos arquivos egípcios de El Amarna. Segundo este relato, o primeiro homem chamado Adapa recebeu grande sabedoria, mas não era naturalmente imortal, ele era filho do deus Ea e morava na cidade de Eridu. Éden, o paraíso bíblico, e Eridu têm a mesma raiz etmológica, como o sumeriano Edin e Edenu, que significa "paraíso" ou "planura". O livro bíblico de Lucas também estabelece a genealogia humana a partir de Adão e que este procede de Deus (Lucas 3:38). Adapa vivia no meio dos Anunnakis,lembrando os anaquins, ou gigantes, mencionados na Bíblia. Ele quebra com a vela de seu barco a asa do vento sul e é julgado pelos deuses. Em seu julgamento, ele recusa-se a se alimentar da água e do pão da vida, pois sabia serem reservados aos deuses. O deus Anu o questiona por não ter comido ou bebido a água da vida, pois assim ele não poderia ter vida eterna, mas isto era um teste e ele é elogiado por isto. Ele recebe um manto para substituir o
primeiro que era da lamentação e é ungido com azeite. No Gênesis, Adão não deveria comer do fruto da árvore do bem e do mal para não morrer, ele seria, como Deus, conhecedor do bem e do mal (Gênesis 2:16 e 17, 3:1-5). Por ter desobedecido esta ordem ele perde o direito de comer da árvore da vida e viver eternamente (Gênesis 3:22-24). Adão e Eva fizeram para si vestimentas de folhas de figueira, mas Deus as substituiu por outras de peles de animais (Gênesis 3:7, 21). (Ibidem, p.p. 55 e 56).

Outro relato que apresenta similaridades com o bíblico é o épico babilônico de Gilgamesh, em que este herói sumeriano tem um amigo chamado Enkidu que é seduzido por uma cortesã da deusa Ishtar e passa a ter um "conhecimento pleno". Ishtar, então, declara: "Você agora é um conhecedor, Enkidu. Você será igual a Deus. Ela improvisa vestiduras e o veste com elas. (Ibidem, p. 56.)

Existem tradições e relatos acerca de um dilúvio semelhante ao da Bíblia nas mais diversas regiões do planeta. Nos relatos sumerianos, a versão mais antiga é a de um tablete bastante danificado que conta a história de Ziusudra que sobreviveu a uma imensa inundação que ocorreu sobre a Terra. O tablete número 11 do Épico de Gilgamesh (de uma tradição do segundo milênio antes de Cristo), conta que Gilgamesh tinha um amigo chamado Utnapishtim que conseguiu sobreviver ao Dilúvio. Ele foi avisado previamente pelo deus Ea sobre a inundação e deveria construir um barco de madeira e piche. Quando o barco ficou pronto entrou a bordo com seus tesouros, sua família, seus artesãos e os animais que havia recolhido. Ele fechou a porta e esperou a tempestade cair. Esta durou seis dias sem parar. No sétimo dia, o barco encalhou no topo do monte Nissir e ficou ali por mais seis dias. Depois, ele soltou uma pomba para ver se as águas haviam baixado, mas ela retornou; mais tarde, soltou um corvo que não retornou, pois havia
encontrado terra firme. Utnashpistim saiu do barco com os animais e companheiros e ofereceu um cordeiro aos deuses que respiraram a fumaça do sacrifício e se mostraram satisfeitos. Outra história semelhante, datada de 1646 a 1626 a.C., conta que Atrahasis foi avisado pelo deus Enki de que a Terra seria destruída por causa do barulho que os homens faziam, não permitindo que o deus Enlil descansasse em paz. Depois de serem enviadas pragas e fome veio um dilúvio. Atrahasis, sua família e vários tipos de animais sobreviveram através de um barco que ele construiu (Ibidem, p.p. 68, 69 e 70.)

No site da BBC (http://www.bbc.co.uk/ahistoryoftheworld/about/transcripts/episode16/), encontramos um relato interessante. Eis alguns trechos (traduzidos):

"É a hora do almoço no Museu Britânico e o local, como de costume, está agitado pelos visitantes. Naturais de Bloomsbury estão visitando como fazem regularmente por diversos motivos e, há cerca de 140 anos atrás, um destes nativos, um visitante da hora do almoço regular, era um homem chamado George Smith. Ele era um aprendiz em uma firma de impressão não distante do museu, e tinha se tornado fascinado pela coleção do museu de antigos tabletes de barro. Ele estava tão absorto neles, que educou-se para lê-los e, no devido prazo, tornou-se um dos principais tradutores de seu tempo. Em 1872, Smith estava estudando um tablete particular de Nínive (moderno Iraque) e isto é que desejo considerar agora.

"Caminhei pelo museu e estou agora sentado na biblioteca onde guardamos os tabletes de barro da Mesopotâmia; uma sala repleta de estantes desde o chão até o teto e, em cada estante, um estreito tabuleiro de madeira com uma dúzia de tabletes de barro nele - a maioria deles fragmentos. O fragmento que George Smith estava particularmente interessado, em 1872, tem cerca de 5 ou 6 polegadas (130 - 150 mm) de altura, é marrom escuro e está coberto com texto escrito muito densamente, organizado em duas colunas muito próximas. À distância, ele parece um bocado com pequenos anúncios de um antiquado jornal. Mas este fragmento, depois de George Smith perceber o que ele era, iria sacudir os fundamentos de uma das maiores histórias do Antigo Testamento, e, de fato, suscitou importantes questões sobre o papel das Escrituras e sua relação com a verdade.

"Nosso tablete é sobre um dilúvio - sobre um homem a quem foi dito por seu deus para construir um barco e carregá-lo com sua família e animais, porque a inundação estava prestes a apagar a humanidade da face da Terra. A narração no tablete era assombrosamente familiar a George Smith - porque quando ele leu e decifrou, tornou-se claro que o que ele tinha dinte de si era um antigo mito que era um paralelo e - mais importante - 'antecedia' a história de Noé e sua arca. ...

"Que uma história bíblica hebraica já tivesse sido contada em um tablete de barro mesopotâmico era uma descoberta estupenda - e Smith sabia-o - como um contemporâneo relata-nos:

" 'Smith tomou o tablete e começou a ler as linhas que o conservador que tinha limpado o tablete tinha trazido à luz; e quando ele viu que elas continham a parte da lenda que ele tinha esperado encontrar ali, ele disse: 'Eu sou o primeiro homem a ler isto após 2000 anos de esquecimento.' Colocando o tablete na mesa, ele saltou e correu pela sala em um grande estado de excitação e, para o espanto dos presentes, começou a despir-se!'

"Mas esta foi realmente uma descoberta digna de se tirar as roupas. Este tablete, agora universalmente conhecido como o Tablete do Dilúvio - tinha sido escrito no que é agora o Iraque no sétimo século a.C, 400 anos antes da mais antiga versão sobrevivente da narrativa bíblica. Seria concebível que essa narrativa bíblica, longe de ser uma reveleção especialmente privilegiada, era meramente parte de um conjunto de lendas que era compartilhado por todo o Oriente Médio?

"Este foi um dos grandes momentos de reescrita da história mundial no radical século desenove. George Smith publicou o tablete apenas 12 anos após o 'Origem das Espécies' de Charles Darwin. E ao fazer isto, ele abriu uma caixa de Pandora religiosa. O Professor David Damrosch, da Columbia University, avalia o sísmico impacto do Tablete do Dilúvio:

"'As pessoas nos anos de 1870 estavam obcecadas pela história bíblica, e houve grande quantidade de controvérsia quanto à veracidade das narrativas bíblicas. Assim, causou sensação quando George Smith encontrou esta antiga versão da história do dilúvio, claramente muito mais antiga do que a versão bíblica. O primeiro ministro Gladstone veio ouvir sua palestra descrevendo sua nova tradução, ela foi relatada em artigos de primeira página ao redor do globo, e houve um artigo de capa no 'New York Times' em 1872 em que já se notava que o tablete podia ser interpretado de dois modos muito diferentes - isto prova que a Bíblia é verdadeira ou mostra que ela é toda lendária? E a descoberta de Smith deu munição adicional ao debate de ambos os lados quanto à veracidade da história bíblica, debates sobre Darwin e evolução, geologia - todas estas coisas estavam ocorrendo."

Mas relatos sobre um dilúvio que inundou a Terra inteira fazem parte das tradições de, virtualmente, todas as culturas ao redor do globo (http://en.wikipedia.org/rewiki/Flood_myth; http://www.talkorigins.org/faqs/flood-myths.html#Pygmy).

Por exemplo, o site The TalkOrigins Archive apresenta um index por região de locais onde existem relatos sobre um dilúvio. (Neste site também podemos encontrar as narrativas por região.) As regiões incluem Europa: gregos, arcadianos, samotrácios, romanos, escandinávios, germânicos, celtas, galeses, lituanios, transilvanianos ciganos, turcos; Oriente Próximo: sumerianos, egípcios, babilônicos, assírios, caldeus, hebreus, islâmicos, persas, zoroastrianos; África: Camarões, Masai, Komililo Nandi, Kwaya (Lago Vitória), sudeste da Tanzânia, pigmeus, Ababua (norte do Zaire), Kikuyu (Quenia), Bakongo (oeste do Zaire), Bachokwe (sul do Zaire), Congo inferior, Basonge, Bena-Lulua (Rio Congo, sul do Zaire), Yoruba (sudeste da Nigéria), Efik Ibibio (Nigéria), Ekoi (Nigéria), Mandingo (Costa do Marfim)); Ásia: Vogul, Samoyed (norte da Sibéria), Yenisey-Ostyaks (centro norte da Sibéria), Kamchadale (nordeste da Sibéria), altaicos (Ásia central), tuvinianos (Soyot) (norte da Mongólia), Mongólia, Buryat (leste da Sibéria), Sagaiye (leste da Sibéria), russos, hindus, Bhil (Ìndia central), Kamar (distrito de Raipur, Índia Central), Assam, Tamil (sudeste da Índia), Lepcha (Sikkim), Tibet, Singpho (Assam), Lushai (Assam), Lisu (nordeste de Yunnan, China), Lolo (sudeste da China), Jino (sudeste de Yunnan, China), Karen (Burma), Chingpaw (Burma superior), China, Coréia, Munda (centro-norte da Índia), Santal (Bengala), Ho (sudeste de Bengala), Bahnar (China), Kammu (nordeste da Tailândia), Ilhas Andaman (Baía de Bengala), Zhuang (China), Sui (sudeste de Guizhou, China), Shan (Burma), Tsuwo (interior de Formosa), Bunun (interior de Formosa), Ami (Taiwan oriental), Benua-Jakun (Península Malaia), Kelantan (Península Malaia), Ifugao (Filipinas), Kiangan Ifugao, Atá (Filipinas), Mandaya (Filipinas), Tinguian (Luzon, Filipinas), Batak (Sumatra), Nias (uma ilha a oeste de Sumatra) Engano (outra ilha a oeste de Sumatra), Dusun (Borneo Norte Britânico), Dyak (Borneo), Ot-Danom (Borneo holandês), Toradja (Celebes central), Alfoor (entre Celebes e Nova Guiné), Rotti (sudeste de Timor), Nage (Flores); Austrália: Arnhem Land (norte do Território do Norte), Maung (Ilhas Goulburn, Arnhem Land), Gunwinggu (norte de Arnhem Land), Gumaidj (Arnhem Land), Manger (Arnhem Land), área do Rio Fitzroy (Austrália ocidental), Monte Elliot (costa de Queensland), Andingari (sul da Austrália), Wiranggu (sul da Austrália), Narrinyeri (sul da Austrália), Lago Tyres (Vitória), Kurnai (Gippsland, Vitória), sudeste australiano, Maori (Nova Zelândia); Ilhas do Pacífico: Kabadi (Nova Guiné), Valman (norte da Nova Guiné), Rio Mamberao (Irian Jaya), Samo-Kubo (Papua Nova Guiné ocidental), Papua Nova Guiné, Ilhas Palau, Carolinas ocidentais, Novas Hébridas, Lifou (uma das ilhas Loyalty), Fiji, Samoa, Nanumanga (Tuvalu, sul do Pacífico), Mangaia (Ilhas Cook), Raiatea (Grupo Leeward, Polinésia francesa), Taiti, Havaí; América do Norte: Innuit, Esquimó (Orowignarak, Alasca), Norton Sound Eskimo Central Eskimo, Tchiglit Eskimo (Oceano Ártico), Herschel Island Eskimo, Netsilik Eskimo (Groenlândia), Tlingit (costa sul do Alasca), Hareskin (Alasca), Tinneh (Alasca e sul), Loucheux (Dindjie, Alasca), Dogrib and Slave (tribos Tinneh), Kaska (ilha da Colúmbia Britânica do norte), índios Thompson (Colúmbia Britânica), Sarcee (Alberta), Tsetsaut, Haida (Ilhas Queen Charlotte, Colúmbia Britânica), Tsimshian (Colúmbia Britânica), Kwakiutl (Colúmbia Britânica), Kootenay (sudeste da Colúmbia Britânica), Squamish (Colúmbia Britânica), Bella Coola (Colúmbia Britânica), Lillooet (Green River, Colúmbia Britânica), Makah (Cape Flattery, Washington), Klallam (nordeste de Washington), Skokomish (Washington), Skagit (Washington), Quillayute (Washington), Nisqually (Washington), Twana (Puget Sound, Washington), Kathlamet, Cascade Mountains, Spokana, Nez Perce, Cayuse (Washington oriental), Yakima (Washington), Warm Springs (Oregon), Joshua (sul de Oregon), Smith River (norte da costa da Califórnia), Wintu (centro-norte da Califórnia), Maidu (Califórnia central), Northern Miwok (Califórnia central), Tuleyome Miwok (próximo a Clear Lake, Califórnia), Olamentko Miwok (Bodega Bay, Califórnia) Ohlone (San Francisco a Monterey, Califórnia), Kato (Mendocino County, Califórnia), Shasta (norte da Califórnia interior), Pomo (centro-norte da Califórnia), Salinan (Califórnia), Yuma (Arizona ocidental, sul da Califórnia), Havasupai (Colorado River inferior), Ashochimi (Califórnia), Yurok (norte da costa da Califórnia), Blackfoot (Alberta e Montana), Cree (Canadá), Timagami Ojibway (Canadá), Chippewa (Ontário, Minnesota, Wisconsin), Ottawa, Menomini (fronteira Wisconsin-Michigan), Cheyenne (Minnesota), Yellowstone, Montagnais (norte do Golfo de St. Lawrence), Micmac (leste do Canadá maritimo), Algonquin (Rio Ottowa superior), Lenape (Delaware) (Delaware até New York), Cherokee (Great Lakes área dos Grandes lagos; leste do Tennessee), Mandan (Dakota do Norte), Lakota, Choctaw (Mississippi), Natche (Mississippi inferior), Chitimacha (Louisiana do sul), Caddo (Oklahoma, Arkansas), Pawnee (Nebraska), Navajo (Four Corners area), Jicarilla Apache (nordeste do Novo México), Sia (nordeste do Arizona), Acagchemem (próximo a San Juan Capistrano, Califórnia), Luiseño (sul da Califórnia), Pima (sudoeste do Arizona), Papago (Arizona), Hopi (nordeste do Arizona), Zuni (Novo México); América Central: Tarascan (norte de Michoacan, México), Michoacan (México), Yaqui (Sonoran, norte do México), Tarahumara (norte do México), Huichol (México ocidental), Cora (leste do Huichols), Tepecano (sudeste do Huichols), Tepehua (leste do México), Toltec (México), Nahua (México central), Tlaxcalan (México central), Tlapanec (sul central do México), Mixtec (norte de Oaxaca, México), Zapotec (Oaxaca, sul do México), Trique (Oaxaca, sul do México), Totonac (leste do Mexico), Chol (sul do México), Tzeltal (Chiapas, sul do México), Quiché (Guatemala), Maias (sul do México e Guatemala), Popoluca (Veracruz, México), Nicarágua, Panamá, Caribe (Antilhas); 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Existem também vários documentos antigos e relatos semelhantes à história bíblica da Torre de Babel, em que a linguagem humana, que até ali era uma só, foi confundida e deu origem às diversas línguas. Alguns exemplos:

"Naqueles dias, as terras de Subur (e) Hamazi, Sumer possuidora de língua em harmônia (?), a grande terra dos decretos do principado, Uri, a terra tendo tudo que é apropriado (?), a terra Martu, repousando em segurança, o universo inteiro, o povo em unissono (?) para Enlil em uma língua [fala]. ... (Então) Enki, o senhor da abundância, (cujos) comandos são dignos de confiança, o senhor da sabedoria, que entende a terra, o líder dos deuses, dotado de sabedoria, o senhor de Eridu mudou a fala em suas bocas, [trouxe (?)] contenda para ela, na fala
do homem que (até então) tinha sido uma." ("The Babel of Tongues: A Sumerian Version" by Kramer, S.N., Journal of the American Oriental Society 88:108-11,1968 encontrado em: http://www.ancient-hebrew.org/36_babel.html)

"A ereção (construção) desta torre (templo) ofendeu muito a todos os deuses. Em uma noite eles (subverteram) o que o homem tinha construído, e impediram seu progresso. Eles foram dispersos e sua fala ficou estranha." ("Tells, Tombs and Treasures"; encontrado em: http://www.thehighway.com/flood_Wilson.html)

"Várias tradições similares à da Torre de Babel são encontradas na América Central. Uma diz que Xelhua, um dos sete gigantes salvos do dilúvio, construiu a Grande Pirâmide de Cholula para desafiar o Céu. Os deuses destruíram-no com fogo e confundiram a linguagem dos construtores. O Dominicano Diego Duran (1537-1588) disse ter ouvido este relato de um sacerdote com 100 anos em Cholula, pouco depois da conquista do México.

Outra lenda, atribuída pelo historiador nativo Don Ferdinand d'Alva Ixtilxochitl (c. 1565-1648) aos antigos Toltecas, diz que depois dos homens se terem multiplicado após um grande dilúvio, eles erigiram um alto zacuali ou torre, para se preservarem no caso de um segundo dilúvio. Contudo, as suas línguas foram confundidas e eles foram para diferentes partes da terra.

Outra lenda ainda, atribuída aos Índios Tohono O'odham ou Papago, afirma que Montezuma escapou a uma grande inundação, depois tornou-se mau e tentou construir uma casa que chegasse ao céu, mas o Grande Espírito destruiu-a com relâmpagos.

Rastos de uma história um pouco parecida também têm sido citados entre os Tarus do Nepal e do Norte da Índia (Relatório do Census de Bengal, 1872, p. 160); e de acordo com David Livingstone, os Africanos que ele conhecera e que viviam junto ao Lago Ngami em 1879 tinham uma tradição assim, mas com as cabeças dos construtores a serem "partidas pela queda do scaffolding [andaime]" (Missionary Travels, cap. 26)." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Babel)

Ethel R. Nelson, juntamente com outros autores, escreveu uma série de livros sobre a similaridade de histórias, conceitos e costumes da Bíblia com os mais antigos caracteres da escrita chinesa. Alguns destes livros são: "God and the Ancient Chinese", "God's Promise to the Chinese", "The Beginning of Chinese Characters", "Genesis and the Mystery Confucius Couldn't Solve". Para escrever o segundo livro, os autores examinaram as mais antigas inscrições feitas em ossos e carapaças de tartarugas, que são chamadas de "escrita de oráculos em ossos". Podemos encontrar algo das comparações destes símbolos chineses com idéias que aparecem no Gênesis no seguinte site: http://www.answersingenesis.org/creation/v20/i3/china.asp

Alguns exemplos: o símbolo antigo chinês para cobiça ou desejo é uma mulher entre duas árvores. Gênesis capítulo 3 conta a história de Eva comendo do fruto da árvore do bem e do mal porque aquele fruto era "desejável para dar entendimento" (Gên 3:6) e dando-o depois para seu marido. Como resultado, os dois tiveram de sair do jardim do Éden e deixar de comer do fruto da árvore da vida (Gên 3:22 e 23). Dificuldade ou problema é representado por uma área cercada com uma árvore dentro e uma coisa negativa ou um não é representado por uma serpente enrolada em duas árvores. Em Gênesis 3 foi uma serpente que enganou Eva acerca do fruto da árvore e como resultado ela e o marido tornaram-se suscetíveis à morte (perda do direito à árvore da vida), cansaço e doenças. O símbolo para justiça é a combinação de uma mão, uma lança, eu e um cordeiro ou carneiro. Nos rituais hebraicos do Antigo Testamento, as pessoas que cometiam uma injustiça e se arrependiam traziam um cordeiro ao sacerdote para ser imolado em lugar da pessoa culpada. Isto simbolizava que a transgressão tinha como penalidade a morte, mas Deus enviaria alguém como Ele mesmo (uma das pessoas da trindade), inocente, para morrer em lugar do transgressor e, por causa da inocência do substituto, essa pessoa seria considerada justa novamente. O signicado dos rituais do Antigo Testamento são expressos nos seguintes textos: "E como a sua oferta pela culpa, trará ao Senhor um carneiro sem defeito, do rebanho; conforme a tua avaliação para oferta pela culpa trá-lo-á ao sacerdote". Levítico 6:6. "Então imolará o cordeiro da oferta pela culpa e, tomando do sangue da oferta pela culpa, pô-lo-á sobre a ponta da orelha direita daquele que se há de purificar, e sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar do seu pé direito." Levítico 14:25. "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo" 1 Pedro 1:18 e 19. "Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." 2 Coríntios 5:21. Estes símbolos representam o que os reformadores do século 16, na Europa, chamaram de "justificação pela fé".

O site acima também comenta sobre uma cerimônia que remonta a 4000 anos, conhecida como Sacrifício Limite, que é relatada no Shu Jing (Livro de História), livro compilado por Confúcio, em que está registrado que o Imperador Shun (que governou desde cerca de 2256 a.C. até 2205 a.C) oferecia sacrifício a ShangDi. A Primeira Canção do Sacrifício Limite - para saudar a aproximação do espírito de SahangDi - dizia o seguinte: "Outrora no início, havia grande caos, sem forma e escuro. Os cinco elementos não haviam começado a se revolver, nem o sol ou a lua a brilhar. No meio (do caos) não havia forma ou som. Tu, ó Soberano espiritual, vieste em tua presidência e primeiro separaste as partes mais espessas das mais claras." (http://www.hyperhistory.net/apwh/essays/comp/cw03bordersacrifice.htm). É interessante a semelhança com Gênesis 1:1-4: "No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas." Outras canções da cerimônia também apresentam paralelos com a Bíblia, quem se interessar pode consultar o site entre parênteses.

Bill Cooper escreveu um livro que foi publicado em março de 1995, "After the Flood". Em seu livro, ele traz o resultado de um estudo, que durou 25 anos, de textos contidos nos capítulos 10 e 11 de Gênesis, conhecidos como a "Tabela das Nações", em comparação com registros arqueológicos dos povos do Oriente Médio e genealogias e crônicas mais antigas dos
primeiros povos europeus. Os textos que aparecem abaixo foram extraídos do primeiro capítulo de seu livro: "O conhecimento de Deus entre os antigos pagãos".

"Para que possamos conduzir o assunto que estamos prestes a estudar em sua devida perspectiva, devemos primeiro admitir que muitos de nossos preconceitos com relação ao homem antigo estão equivocados. Comumente se supõe, por exemplo, que as nações do mundo tomaram conhecimento do Deus de Gênesis apenas depois que elas foram evangelizadas por missionários cristãos. Apenas desde a tradução das Escrituras, assume-se, elas tomaram conhecimento da criação e do Deus que a criou. Supõe-se ainda que o antigo homem pagão não podia ter qualquer conceito de uma divindade superior a um ídolo, porque é impossível chegar ao conhecimento de um verdadeiro Deus sem esse conhecimento ter sido dado através da direta revelação de Sua Palavra, e assim por diante. O pensamento popular parece nunca ter considerado a possibilidade de que o homem pagão
tinha, indubitavelmente, noção de Deus e de Seus atributos e poder, e que essa noção existiu e floresceu por séculos sem recorrer, em absoluto, às Escrituras. De modo que, é com alguma surpresa, que nos deparamos exatamente com isto, um profundo conhecimento e apreciação de um eterno e todo-poderoso Deus Criador, de Sua paternidade da raça humana e de Seus
infinitos atributos nos escritos de vários historiadores do mundo antigo e entre os ensinos dos mais antigos filósofos. ...

"Mas primeiro devemos entender algo da absoluta profundidade do conceito filosófico pagão do Deus verdadeiro único. Nos deparamos com ele em lugares tão distantes um do outro quanto o mundo é amplo, e entre culturas tão diversas social e politicamente como as da antiga Grécia e da China. Por exemplo, é dos escritos do taoísta Lao-tzé, que floresceu na China do século 16 a.C., que a profunda declaração seguinte a respeito da existência e de alguns dos atributos de Deus é tomada:

'Antes do tempo, e por todo o tempo, tem havido um ser auto-existente, eterno, infinito, completo, onipresente. Além deste ser, antes do início, não havia nada.' (Lao-tzu, Tao-te-ching, tr. Leon Wieger. English version by Derek Bryce. 1991. Llanerch Publishers, Lampeter. p. 13.) ...

"Embora, imperfeito como o conceito de Deus possa ter sido entre os antigos pagãos, ele era, todavia, muito real, frequentemente profundo, e pode ter-se fundamentado unicamente sobre um corpo de conhecimento que tinha sido presevado entre as raças antigas a partir de um ponto particular da história. Qual é esse ponto da história pode tornar-se evidente à medida em que nosso estudo prossegue e nos defrontamos com as famílias da humanidade dispersando-se ao redor do globo a partir de um único ponto. Mas que ele era profundo e, de muitos modos, inspirador, dificilmente pode ser negado, como o seguinte antigo texto de Heliópolis no Egito testifica:

'Eu sou o criador de todas as coisas que existem ...que procederam da minha boca. O céu e a Terra não existiam, nem haviam sido criadas as ervas do solo nem as coisas rastejantes. Eu as fiz surgir do abismo primitivo de um estado de não existência...' (Paráfrase do autor da tradução literal de Wallace Budge de 'The Gods of the Egyptians'. Vol. 1. Dover. New York. 1969. pp. 308-313.)...

"Por exemplo, entre os antigos gregos temos na Teogonia de Hesíodo (8º século a.C.) um relato da criação do mundo que mantém inequivoca e notavelmente íntimas similaridades como o relato de Gênesis:

'Primeiro de tudo o Vazio veio à existência ... em seguida a Terra ... Do Vazio surgiram as trevas ... e da Noite surgiu a Luz e o Dia ...' (Hesiod, Theogony, (tr. Norman Brown, 1953). Bobbs-Merrill Co. New York. p. 15.)

"E todavia é imediatamente óbvio a partir da leitura de toda a Teogonia que Hesíodo não obteve esta informação do livro de Gênesis. Isto é evidente a partir de sua degradante visão só do Criador. ... Xenófanes, por exemplo, que viveu cerca de dois séculos depois de Hesíodo, mantinha uma visão totalmente mais sublime do Criador e em uma passagem muito inspiradora busca restaurar o equilibrio teológico:

"Homero e Hesíodo atribuiram aos deuses todas as coisas que entre os homens são vergonhosas e censuráveis - roubo e adultério e mútuo engano ...[Mas] existe um Deus, o maior entre os deuses e homens, não semelhante aos mortais em forma ou pensamento ... ele vê como um todo, ele pensa como um todo, ele ouve como um todo ... Ele permanece sempre no mesmo estado, não mudando em absoluto ... Mas longe de se atarefar ele governa tudo com sua mente.' ( Barnes, Jonathan. 1987. Early Greek Philosophy. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 95-97.) ...

"Tales de Mileto (ca 625-545 a.C.) é comumente considerado como tendo sido o primeiro filósofo materialista entre os gregos. ... Mas contra isto deve-se apresentar os aforismas que são atribuídos por outros a Tales, tais como: 'Das coisas existentes, Deus é a mais antiga - pois ele não foi gerado. O mundo é a mais bela, pois é criação de Deus ... A mente é a mais rápida, pois percorre tudo ...' (Barnes, Jonathan. 1987. Early Greek Philosophy. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 68.) ...

"[Platão] pinta-nos um quadro das condições das coisas em seus próprios dias, mas fala dos materialistas como se eles fossem uma improvável nova geração de pensadores que tinham recém chegado em cena:

'Algumas pessoas, eu creio, explicam todas as coisas que vieram a existir, todas as coisas que estão vindo a existência agora, e todas as coisas que assim o farão no futuro, atribuindo-as ou a natureza, a arte ou ao acaso.' (Plato. The Laws, (tr. Trevor Saunders, 1970). Penguin Classics. Harmondsworth. p.416.)


" ... prossegue dizendo-nos como esses pensadores definem os deuses como 'conceitos artificiais'e 'ficções legais'. Ele cita a tendência para o que ele considerava ser 'uma doutrina perniciosa' que 'deve ser a ruína da geração mais jovem, tanto no estado em geral como nas famílias particulares'. (Plato. The Laws, (tr. Trevor Saunders, 1970). Penguin Classics. Harmondsworth.Plato. The Laws, (tr. Trevor Saunders, 1970). Penguin Classics. Harmondsworth. p.417.) ...

"Um estóico posterior, o romano Cícero, devia dar ao conceito [criacionista] talvez a sua mais alta expressão nos tempos pré-cristãos, e suas palavras são dignas de citação, em pequena extensão:

"Quando se vê um relógio de sol ou um relógio de água, vê-se que ele diz a hora por projeto e não por acaso. Como então se pode imaginar que o universo como um todo é vazio de propósito e inteligência quando ele abrange tudo, inclusive estes artefatos e seus artífices? Nosso amigo Possidônio, como se sabe, recentemente fez um globo que em suas revoluções mostra os movimentos do sol, das estrelas e dos planetas, de dia e de noite, como eles aparecem no céu. Então, se alguém tomasse este globo e mostrasse-o ao povo da Bretanha ou da Cítia, algum destes bárbaros deixaria de ver que ele era o produto de uma inteligência consciente?' (Cicero, On the Nature of the Gods, (tr. Horace McGregor, 1988). Penguin Classics. Harmondsworth. p. 159.)"

Embora ficasse muito extenso transcrever aqui a imensa quantidade de evidências documentadas que existem de que conceitos e histórias bíblicas permeiam as narrativas, crenças e tradições de todas as culturas pré-bíblicas ao redor do planeta, acredito que esta amostra já seja suficiente para os que a examinarem sem preconceitos.

É difícil imaginar povos ao redor do mundo antigo trocando informações tão eficientemente a ponto de influenciarem-se uns aos outros com suas narrativas de eventos passados. Muito mais razoável seria supor que esses povos descendem de pessoas que viviam inicialmente em uma mesma região geográfica e compartilhavam contos e crenças. Por sinal, isso está de acordo com as afirmações bíblicas sobre o passado da humanidade.

Um conceito que pretendo explorar na continuação deste tema, é a questão do significado de mistério no contexto bíblico (algo que ainda não é entendido) em relação ao conceito de mistério místico (algo que é inacessível).

As questões que eu gostaria de deixar aqui para reflexão são as seguintes: É razoável supor que a existência de registros tão antigos e tão amplamente espalhados pelo planeta de conceitos e histórias bíblicas indiquem que há fatos por trás dos detalhes contidos neles? É totalmente racional excluir esta possibilidade?

sábado, 20 de novembro de 2010

Misticismo X Racionalidade

Parece, para muitos, que a humanidade se divide em dois grandes grupos: místicos e racionais ou, no máximo, alguma combinação em diferentes proporções destes dois grupos.

O pensamento místico incluiria qualquer tipo de crença no sobrenatural ou mágico, enquanto o pensamento racional estaria baseado na lógica e no método científico.

Nessa visão de mundo, os místicos seriam guiados principalmente por sensações e intuição, ao passo que os racionais seriam dirigidos pela razão e evidências observáveis. Contudo, a maioria das pessoas se posicionaria em uma espécie de intersecção destes dois tipos básicos. Muitas vezes manifestando pensamentos que estariam em oposição entre si.

Essa visão dualista do mundo parece subjacente à mente das pessoas quando considerando temas relacionados a ciência e religião.

Na verdade, há nós nessa concepção de mundo, que se não forem desembaraçados, tornam difícil tratar dos temas acima com clareza imparcial.

Começo pelas definições de místico e racional. Místico é uma palavra de origem grega que significa "iniciado em uma religião de mistérios" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Misticismo). Eu parto do princípio de que todo o místico é religioso, mas nem todo o religioso é místico. Para ficar clara esta proposição, é preciso primeiro conceituar o termo religião. A etimologia da palavra é latina (religio). "O significado não é claro. Cícero (106-43 a. C.) no De Natura Deorum afirma que a palavra vem da raiz relegere ('considerar cuidadosamente'), oposto de neglere, descuidar. Já Lactâncio, escritor cristão (m. 330 d.C.), diz que vem de religare ('ligar', 'prender')." (http://www.ceismael.com.br/artigo/papel-da-religiao.htm, citando a Enciclopédia Luso-Brasileira).

Então, em princípio, um religioso seria alguém que considera cuidadosamente algo ao qual ele está ligado. Bem, mas a partir desta definição poder-se-ia concluir que todos são religiosos e muitas pessoas consideram-se não religiosas, por exemplo: ateus, agnósticos, céticos, materialistas, hedonistas, humanistas e muitos cientistas. Eu acredito que o ser humano é intrinsicamente religioso não importa aquilo em que acredite. Essa religiosidade não precisa se manifestar como crença no sobrenatural ou no culto a alguma divindade. (A Medicina parece ter encontrado o local da experiência religiosa no cérebro humano: o lobo temporal, http://www.bbc.co.uk/science/horizon/2003/godonbrain.shtml) O "deus" de muitas pessoas é qualquer coisa a que ela se sente tão ligada, dedica tanta energia e identifica-se de tal maneira que, se ela perdesse tal motivação, ela se sentiria perdida, vazia. Pode ser uma ideologia, um modo de vida, uma outra pessoa ou conjunto de pessoas, coisa materiais ou mesmo o estar centrada em si mesma.

Muitas pessoas sentir-se-iam desconfortáveis com este tipo de definição por causa das implicações relacionadas quando se subentende que todo o religioso é um místico.

Voltemos então à definição de místico: "iniciado em uma religião de mistérios". Vimos que, pela minha definição, qualquer pessoa pode ser considerada religiosa, creia ou não no sobrenatural (algo que esteja acima ou além da natureza). Mas será que qualquer um que creia que há algo ou alguém fora ou acima da natureza é um místico? Alguém que crê no sobrenatural pode ser racional sem ser uma mistura antagônica de pensamentos conflitantes? Alguém que se considera racional (baseia-se na razão), pode não estar baseando suas crenças em coisas tão objetivas quanto ele julga que são?

Para responder à primeira pergunta é preciso resolver primeiro a questão de algo ou alguém acima da natureza ser ou não um mistério (no sentido de inacessível e/ou incompreensível).

Ao longo da história, a maioria das crenças no sobrenatural e/ou mágico tem se caracterizado pela falta de explicações razoáveis e, portanto, ausência de compreensão. A maioria das crenças em divindades, mesmo a maior parte da religiosidade baseada no Deus dos cristãos, tem-se caracterizado pelos mesmos problemas. Poder-se-ia concluir que qualquer crença no sobrenatural seja caracterizada pelo misticismo, mas eu pretendo discutir algumas das evidências históricas de que, ao longo dos séculos, tem havido entre os seres humanos, uma crença em um ser sobrenatural, que não é absolutamente inacessível e incompreensível e que, ao contrário, existem muitas evidências que podem ser testadas por aqueles que desejam ser racionais.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Origem da Vida e seus Pesquisadores

Algumas coisas que se ouvem muito nos meios acadêmicos, em centros de pesquisa e são bastante propagadas por revistas de divulgação científica, são que a Evolução é um fato, que crer em Deus e em Criacionismo é uma coisa para ignorantes, porque Deus e Criacionismo não podem ser estudados de forma racional, etc.

Bem, se a evolução é um fato, segundo dicionários de português, ela é real,verdadeira, algo que acontece. Acho que hoje em dia ninguém (ou pelo menos quase ninguém) discorda de que ocorrem mutações nos seres vivos, de que eles se adaptam, enfim ... A maioria das pessoas pensantes também percebe que a seleção natural faz bastante sentido. A questão é que a Síntese Evolutiva Moderna agrega muito mais idéias além destas, você precisa aceitar que houve um ancestral comum para todas as espécies de seres vivos que existem sobre a Terra. E ai eu encontro mais duas palavras problemáticas que não foram até hoje bem definidas e sobre as quais não existe consenso entre os cientistas, que seriam: vida e espécie. Para a última existem pelo menos umas 3 definições: o conceito evolutivo, o filogenético e o biológico. A última é mais difundida, mais aceita, mas existem várias exceções para ela e isto, para mim, significa que a definição ainda não ficou boa.

Tudo bem, deixando de lado as definições, se querem que algo seja aceito como fato, coisa real, verdadeira, e se a Evolução pode ser estudada cientificamente, então tem que poder acontecer duas coisas: primeira, se é um fato tem de poder ser observada e, segundo, se pode ser comprovada cientificamente tem de poder se comprovar pelo método científico com a exclusão de qualquer outra hipótese. O primeiro teste é simples: Se houve um ancestral comum e se ele se originou da primeira molécula ou conjunto de compostos que deram origem a vida, então tem de ser possível se observar isto. E o problema com fatos é que não se pode afirmá-los quando ocorreram no passado e ninguém estava lá para ver.

Comprovar uma hipótese que não pode ser acessada diretamente também é difícil, porque se a origem da vida for reproduzida em laboratório, quem garante que foi assim mesmo que aconteceu?

Por falar nisso, como fica a origem da vida em laboratório, sim, porque como disse Robert Shapiro, um pesquisador que crê que a origem da vida foi através de metabolismo primeiro: "Em contraste, nenhum nucleotídeo de qualquer tipo foi relatado como produto de experimentos com discarga de faíscas ou em estudos de meteoritos, nem as unidades menores (nucleosídeos) que contêm um açúcar e base, mas falta o fosfato. Para resgatar o conceito de RNA-primeiro deste, normalmente, defeito letal, seus defensores criaram uma disciplina chamada síntese prebiótica. Eles têm tentado demonstrar que RNA e seus componentes podem ser preparados em seus laboratórios em uma sequência de reações cuidadosamente controladas, normalmente realizadas em água a temperaturas observadas na Terra. Tal sequência inicia usualmente com compostos de carbono que tenham sido produzidos em experimentos com discarga de faíscas ou encontrados em meteoritos. A observação de um composto químico orgânico específico em qualquer quantidade (mesmo como parte de uma mistura complexa) em uma das fontes acima justifica sua classificação como "prebiótico", uma substância que supostamente se provou estar presente na Terra primitiva. Uma vez tendo recebido esta distinção, o produto químico pode então ser usado na forma pura, em qualquer quantidade, em outra reação prebiótica. Os produtos de tais reações também serão considerados "prebióticos" e empregados no próximo passo da sequência. O uso de sequẽncias de reações deste tipo (sem qualquer referência à origem da vida) tem há muito sido uma prática honrada no campo tradicional da química orgânica sintética. Meu próprio orientador da tese de PhD, Robert B. Woodward, recebeu o Prêmio Nobel por sua brilhante síntese de quinino, colesterol, clorofila e muitas outras substâncias. Pouco importa se quilogramas de material inicial foram necessários para produzir miligramas de produto. O ponto foi a demonstração de que seres humanos podem produzir, ainda que ineficientemente, substâncias encontradas na natureza. Infelizmente, nem químicos nem laboratórios estavam presentes na Terra primitiva para produzir RNA." Robert Shapiro, ""A simpler origin for life", Scientific American, 12 de fevereiro de 2007.

Outro ponto: se crer em Deus é um viés que impede o estudo racional do assunto sobre as origens, como fica a declaração abaixo (feita por ninguém menos do que Freeman Dyson):
"A descrição de Oparin foi geralmente aceita pelos biólogos por meio século. Ela era popular não porque houvesse qualquer evidência para apoiá-la, mas antes porque parecia ser a única alternativa para o criacionismo bíblico." Freeman Dyson, "Origins of Life", p. 38.

Racionalidade, objetividade, sem comentários ...

Eu admiro Darwin (criacionistas e evolucionistas me apedrejariam por isto), ele foi honesto na forma de colocar suas idéias, teve um insight brilhante quando percebeu que as espécies se modificavam e foi metódico ao documentar isto. Ele sabia que havia falhas no seu trabalho e ele admitiu isto na introdução de seu livro. Infelizmente, as pessoas não lêem atentamente o livro dele (ou nem lêem) e idolatram a imagem que fizeram dele.

Uma vez em uma palestra sobre origem da vida alguém me disse que origem da vida não faz parte da Teoria da Evolução. Tudo bem, só tem uma coisinha: sem origem da vida não tem ancestral comum, sem ancestral comum não existe origem das espécies. Voltando a origem da vida, Leslie Orgel, que foi uma espécie de pai da idéia do mundo de RNA primitivo, passou grande parte de sua vida pesquisando sobre o assunto, e morreu em 2007, disse o seguinte em um artigo que encontrei no site da Nasa anteriormente (agora pode ser encontrado no seguinte link http://eddieting.com/eng/originoflife/orgel.html):

"A hipótese mais simples presume que os nucleotídeos no RNA se formaram quando reações químicas diretas levaram a união do açúcar ribose com bases dos ácidos nucléicos e fosfato (que estaria disponível no material inorgânico). Este cenário é atrativo mas, como será visto, tem-se provado difícil de confirmar. ...)". E ele prossegue relatando todas as dificuldades.

Gerald Joyce, que foi orientado por Orgel em seu doutorado, e é também pesquisador da origem da vida através da molécula de RNA ou algum precursor semelhante, disse o seguinte em um artigo publicado na Nature em 2002:

“O principal obstá́culo para se entender a origem da vida baseada em RNA é identificar um mecanismo plausível para vencer a bagunça produzida pela química prebiótica” Gerald F. Joyce, "The antiquity of RNA-based evolution" Nature, 11 de julho de 2002.

Shapiro faz algumas considerações interessantes em um artigo publicado em 2007 na Scientific American:

“A analogia que vem a mente é a de um jogador de golfe, que tendo jogado uma bola através de uma rota de 18 buracos, então presume que a bola também jogaria a si mesma por esta rota na ausência dele. Ele demonstrou a possibilidade do evento; só é necessário imaginar que alguma combinação de forças naturais (terremotos, ventos, tornados e inundações, por exemplo) poderiam produzir o mesmo resultado, dado tempo suficiente. Nenhuma lei física precisa ser violada para a formação espontânea de RNA acontecer, mas as chances contra isto são imensas, implica em que o mundo não vivo tem um desejo inato de gerar RNA. A maioria dos cientistas da origem da vida que ainda apoia a teoria do RNA primeiro ou aceita este conceito (implicita, se não explicitamente) ou acha que as chances imensamente desfavoráveis foram simplesmente vencidas por boa sorte.”
“Imagine um gorila (braços muito longos são necessários) em um imenso teclado conectado a um processador de palavras. O teclado contém não apenas os símbolos usados nas linguagens inglesa e européia, mas também um enorme excesso extraído de todas as outras linguagens conhecidas e todos os conjuntos de símbolos armazenados em um típico computador. As chances de uma reunião espontânea de um replicador no ‘pool’ que eu descrevi acima pode ser comparada àquelas do gorila compor, em inglês, uma receita coerente de chili com carne. Com considerações semelhantes em mente, Gerald F. Joyce do Scripps Research Institute e Leslie Orgel do Salk Institute concluiram que o aparecimento espontâneo de cadeias de RNA na terra sem vida ‘teria sido um quase milagre’. Eu estenderia esta conclusão a todos os propostos substitutos de RNA que mencionei acima.” Robert Shapiro, "A simpler origin for life", Scientific American, 12 de fevereiro de 2007.

A observação de Shapiro, de que "só é necessário imaginar que alguma combinação de forças naturais (terremotos, ventos, tornados e inundações, por exemplo) poderiam produzir o mesmo resultado, dado tempo suficiente" me veio a mente quando estava lendo o artigo publicado na Nature, no ano passado, sobre a síntese de nucleotídeos de pirimidina e que foi divulgado como algo que deixou a origem da vida por RNA bem próxima de se comprovar. No final do artigo aparecem as seguintes considerações:

"Embora a questão de fornecimentos temporalmente separados de glicolaldeído e gliceraldeído permaneça um problema, uma variedade de situações poderia ter surgido que resultaria nas condições de aquecimento e progressiva desidratação seguida de congelamento, reidratação e irradiação ultavioleta." Matthew W. Powner, Beatrice Gerland e John D. Sutherland, "Synthesis of activated pyrimidine ribonucleotides in prebiotically plausible conditions", Nature, 14 de maio de 2009. É poderia ... não é impossível, como disse Shapiro. Acho que provar que algo é impossível é bem difícil, inclusive que Deus não existe.

Shapiro acredita que um ciclo composto por moléculas bem mais simples que nucletídeos poderia ter dado origem a uma espécie de ciclo metabólico pouco sofisticado que teria a capacidade de se reproduzir e suportar seleção natural. Outros pesquisadores partilham de idéias semelhantes, um deles, Günter Wächtershäuser, propôs um ciclo que considerou simples, o ciclo do ácido cítrico reverso, um ciclo autocatalítico, ou seja, as próprias moléculas carreadoras do ciclo servem como catalisadoras das reações. Em 200O, Orgel publicou um artigo sobre este tipo de ciclo (porque ciclos do tipo autocatalílico eram uma proposta comum entre defensores do metabolismo primeiro na origem da vida):

“Postular um reção catalisada ao acaso, talvez por um íon metálico, pode ser razoável, mas postular um conjunto delas é apelar para a magia.” Leslie E. Orgel, "Self-organizing biochemical cycles" Leslie E. Orgel, PNAS, 7 de novembro de 2000.

Mas em janeiro deste ano uma pesquisa publicada pareceu dar um "xeque mate" na proposta de metabolismo primeiro na origem da vida:

"Em agudo contraste com a dinâmica da replicação dependente de molde, demonstramos aqui que a replicação da informação de compostos é tão imprecisa que os mais ajustados genomas de compostos não se mantêm pela seleção e, portanto, falta-lhes capacidade de evolução (isto é, não podem substancialmente se afastar da solução steady-state assintótica já embutida nas equações dinâmicas). Concluímos que esta limitação fundamental de conjuntos de replicadores adverte contra teorias de origem da vida de metabolismo primeiro, embora sistemas metabólicos antigos possam ter providenciado habitat estável dentro do qual replicadores poliméricos mais tarde evoluiram." Vera Vasas, Eörs Szathmáry e Mauro Santos, "Lack of evolvability in self-sustaining autocatalytic networks constraints metabolism-first scenarios for the origin of life", PNAS, 26 de janeiro de 2010.

Contudo, eu não apostaria que os defensores do metabolismo primeiro na origem da vida vão desistir assim tão fácil, afinal, os proponentes do "Mundo de RNA" continuam suas pesquisas nesta linha apesar de todos os viéses e críticas. Seria porque alguma destas hipóteses "tem que" funcionar de qualquer jeito para não se pensar em "criacionismo bíblico", como disse Dyson?

Por favor, a origem da vida e o ancestral comum, seja lá como possam ter sido, é algo que aconteceu no passado, é algo intangível, tão intangível quanto Deus. Agora, se podemos rastrear as evidências de algo que aconteceu em um passado impalpável, por que não podemos rastrear Deus da mesma forma? "Não, mas estudar a origem química da vida é uma coisa racional, não influenciada por crenças pessoais (contanto, que exclua Deus)."

Uma vez eu vi uma charge, em uma revista, em que um homem caminhava com uma bengala e uma Bíblia no rosto tapando seus olhos. E é verdade, muita gente usa a Bíblia como desculpa para não estudar e entender a natureza. É verdade também, com frequência, que estas pessoas não estudam a Bíblia também, mas permitem que outros que se consideram versados na Bíblia os guiem e lhes dirijam as crenças sobre o que a Bíblia ensina. Bem, e se mudássemos apenas um detalhe nesta figura? E se ao invés da Bíblia fosse o "Origem das Espécies"? Isto se pareceria com alguma coisa que acontece na realidade?

sexta-feira, 28 de maio de 2010

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Êfemera

O Pai Eterno, Arquiteto do Universo,
Teve um belo sonho e o tornou realidade
E o substrato do mundo disperso
De gases e poeira na imensidade
Tornou-se o primeiro lar da humanidade
Onde a dor e a morte não existiam
E o mal era apenas possibilidade
Que nossos pais não conheciam.

Quando as sombras encheram nosso mundo,
Quando murcharam as primeiras flores,
E o desespero era negro e profundo,
Uma promessa apontava um ``Varão de Dores'',
Que entre o céu e a terra seria suspenso,
De ponte entre Deus e o homem serviria.
Seu sofrimento seria muito intenso
Mas por amor a tudo venceria.

Esse Deus maravilhoso, de múltipla sabedoria,
Na natureza nos ensina e guia
Ainda que maculada e enfraquecida
Ela dá preciosas lições de vida.
Veja-se a efêmera, inseto curioso,
Que segue seu destino imperioso;
Adulta, vive apenas um dia,
Embora como larva há muito já existia.

Como larva, eu aqui sofria;
No fundo de algum lago vivia;
Meu mundo era apenas isso então
No fundo, a lama; acima a escuridão.
Sem respostas, sem saídas, sem retorno.
Pouco tempo, na verdade, era preciso
Para saber de tudo que havia em torno
Parecendo amplo, mas, de fato, conciso.

Os tipos de ilusões podem variar
Pra que a vida se passe em sonhos
Que nunca vão se concretizar
Porque mesmo nos dias risonhos
Em que eles parecem reais
As satisfações materiais
Não limpam a alma do mundo,
Quando a larva se transforma
E voa como forma alada
Para longe do lago em que se forma,
Logo em adulta será transformada.

Para todos chega um dia
Em que é preciso se encontrar
Com a destruição da fantasia,
Em que é preciso encarar
A própria vulnerabilidade,
A importância da calamidade,
A inutilidade de impedir a morte
E o que nos sobrevém aos azares da sorte.

Como o incerto pode contar-se certo?
E o mutável confiável?
Mas quando além do lago vê o céu
E de seus olhos cai um negro véu,

Quando contempla a Estrela da Manhã
E vê que em Cristo a esperança não é vã
Então a larva é transformada
E o lago já não é mais sua morada

Porque do mundo tira as afeições
Já não o enganam suas ilusões.
E quando em adulto então se transformar,
Morrer ao eu irá, ao eu irá negar.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Qualquer coisa

Qualquer coisa que descreva a beleza de um momento
Qualquer coisa evocando lembranças perdidas no tempo
Qualquer coisa que chamou de volta as esperanças

Qualquer coisa no ar e um sentimento
Mais profundo, mais bonito que voar no vento
Qualquer coisa … fascinante como o mar!
É qualquer coisa … melhor que sonhar!

Há qualquer coisa que não sei explicar
Que me impressiona na beleza de um olhar
Que me emociona e que me faz chorar
Faz tanto tempo que esperei falar!

Ainda nem consigo acreditar
Depois da chuva vem o arco-íris
Além da areia está o mar
Agora já encontrei o meu lugar

Há qualquer coisa … qualquer coisa nesse olhar
Um espelho para me mirar
Um conselho sábio a cativar
Alguma coisa que me fez te amar

terça-feira, 4 de maio de 2010

Os que não aprendem da história ...

"Os que não aprendem da história estão fadados a repeti-la." George Santayana

"A perseguição aos cristãos é o nome dado aos maus tratos físicos, agressões e mortes sofridas por cristãos por causa da sua fé. Esta perseguição foi levada a cabo na antiguidade pelos judeus, de cuja religião o cristianismo era uma ramificação, e também pelos imperadores do Império Romano, que controlava grande parte das terras onde o cristianismo primitivo distribuiu-se,e para o qual o cristianismo constituía uma seita. Tal perseguição pelos imperadores teve fim com a legalização da religião cristã por Constantino I, no início do quarto século."
(http://pt.wikipedia.orgwikiPerseguição_aos_cristãos)

Com o Édito de Milão, em 313, o Cristianismo passou a ser tolerado pelo Império Romano e acabou se tornando a religião oficial do império. Com a mudança de status por parte do Cristianismo, logo muitos costumes pagãos começaram a ser adotados
para satisfazer a maioria. Introduziram-se imagens nas igrejas, autoridade eclesiástica, infalibilidade do papa, adoração no dia do Sol (sunday), etc. E aqueles que foram perseguidos tornaram-se perseguidores.

"Desde o início, os valdenses afirmavam o direito de cada fiel de ter a Bíblia em sua própria língua, sendo esta Bíblia a fonte de toda autoridade eclesiástica.
Os valdenses reuniam-se em casas de família ou mesmo em grutas, clandestinamente, devido à perseguição da Igreja Católica. Celebravam a Santa Ceia uma vez por ano. São considerados como uma igreja pré-reformada. Negavam a supremacia de Roma, rejeitavam o culto às imagens como idolatria.
Foram duramente perseguidos na França e na Itália, instalando-se com maior concentração nos vales alpinos de Piemonte, norte da Itália." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Valdenses)

Antes da reforma protestante do século XVI, milhares foram mortos, queimados vivos ou deixados a morrer de doença e abandono
em prisões insalubres. Casos mais famosos foram os de Jan Hus, Hugh Latimer e o massacre de São Bartolomeu, em que se estima que foram assassinados entre 5000 a 30000 huguenotes (http://en.wikipedia.org/wiki/St._Bartholomew's_Day_massacre).

Mas como as pessoas não costumam aprender da história, em países da Europa em que alguma fé protestante tornou-se a Igreja Estatal, quando novos grupos surgiam, em que se acreditava ter-se encontrado novas verdades, os antigos perseguidos tornavam-se agora perseguidores. Em 6 de setembro de 1620, muitos puritanos fugiram da Inglaterra para os Estados Unidos, a bordo do Mayflower, em busca de liberdade religiosa. Não é para menos que a primeira emenda da constituição dos Estados Unidos reza: "O congresso não fará nenhuma lei com respeito ao estabelecimento de religião, ou proibindo o livre exercício dela; ou diminuindo a liberdade de expressão, ou de imprensa; ou o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e a petição ao governo de reparação de injustiças." (http://topics.law.cornell.edu/constitution/billofrights)

Os Estados Unidos se tornaram o país da liberdade e, neste clima, o país cresceu e prosperou, tornou-se a primeira nação do mundo. Poderia haver, neste país, ameaça a liberdade de consciência? Podemos ver algo que aponte para isto hoje?

"Reconstrucionismo Cristão é uma forma de teologia de domínio teocrático. Seus líderes desafiam evangélicos de uma ampla faixa de crenças teológicas a se engajar em uma forma de participação política mais muscular e ativista. O tema central da teologia de domínio é que a Bíblia manda os cristãos dominarem e "ocuparem" as instituições seculares. Muitos líderes da Direita Cristã leram o que os Reconstrucionistas Cristãos escreveram e adotaram a idéia de assumir o domínio das instituições seculares dos Estados Unidos como a "ideologia central unificadora" de seu movimento social. Eles decidiram obter poder político através do Partido Republicano." Esta explicação pode ser encontrada no site http://theocracywatch.org/
Neste site existem vários links para notícias sobre as atividades destes grupos nos Estados Unidos. Estes movimentos têm ramificações também em países da Europa.

Mais algumas afirmações alarmantes: "Os Dominionistas estiveram muito próximo de controlar todos os três ramos do governo federal a partir dos quais eles poderiam impor sua interpretação estreita das Escrituras sobre o resto da sociedade. Pessoas tão próximas de total poder político não desistirão. O povo americano precisa manter vigilância e entender a história de como os dominionistas chegaram ao poder político. E precisamos abraçar a democracia com paixão - pois foi a apatia dos eleitores que permitiu a líderes como Pat Robertson conseguir ter tantos dominionistas eleitos para o Congresso em primeira instância."

Pelo que podemos observar, as pessoas esquecem facilmente aquilo a que não prestaram atenção e aprenderam. Pela índole do povo atualmente, podemos ver para onde ele se dirige. O espírito de intolerância está por toda a parte. Podemos defender nossas idéias e, mesmo que tenhamos a certeza de que estão certas, nunca deveríamos mover um dedo para impô-las de qualquer forma, seja pela força ou pela intimidação. Não temos o direito de ridicularizar ou excluir ninguém.

domingo, 18 de abril de 2010

Evidências de Deus na história humana

Podemos encontrar evidências de Deus na história humana?
Essa é uma pergunta que cada um precisa responder para si mesmo.
Mas eu posso citar alguns poucos exemplos, embora pudessem ser escritos muitos livros apenas listando exemplos como estes.

Daniel foi um dos cativos hebreus que viveu em Babilônia por volta do sexto século antes de Cristo. Ele escreveu um livro que leva seu nome o qual contém inúmeras profecias sobre eventos futuros na história humana. Os manuscritos do Mar Morto também continham fragmentos do livro de Daniel, bem como de todos os outros livros das Escrituras (com exceção do livro de Ester).
Uma profecia interessante é a que se encontra no capítulo 2 de seu livro. Neste capítulo ele descreve o sonho do rei Nabucodonosor com os impérios que sucederiam o de Babilônia. O símbolo usado foi o de uma grande estátua composta de quatro tipos de metal: ouro, prata, bronze e ferro. Cada metal representava um império: a cabeça de ouro Babilônia, o peito e os braços de prata os medos e persas coligados, os quais conquistaram Babilônia em 539 a.C., o ventre e os quadris de bronze a Grécia, que dominou o império persa a partir de 331 a.C. por meio de Alexandre, o Grande e as pernas de ferro, o império romano, que assumiu o poder na região por volta do ano 168 a.C.

Os pés da estátua eram em parte de ferro e em parte de barro e Daniel explicou que eles não seriam um quinto reino (império) mas sim o quarto dividido (10 dedos). Isto representa bem as divisões do Império Romano pelos bárbaros que deram origem às nações da Europa. Daniel afirma que este reino dividido nunca mais formaria um reino só, embora tentassem ligar-se inclusive através de casamentos. É notório que as nações da Europa procuraram fazer alianças mediante casamentos por toda a antiguidade. Atualmente a Europa conseguiu uma razoável uniformidade, mas ainda existe uma grande quantidade de obstáculos para a unidade em toda a Europa. Daniel finaliza dizendo que nos dias dos dedos da estátua, no final da história humana, "o Deus do céu suscitará um reino que não será jamais destruído". Ele é simbolizado por uma grande pedra que feriu a estátua nos pés e a consumiu e encheu toda a Terra. Segundo Daniel, este reino será o de Deus.

Um outro exemplo é o do capítulo 11 do livro de Apocalipse. São descritas duas testemunhas profetizando vestidas de pano de saco por 1260 dias, sendo mortas e depois ressuscitadas em um período de 3 dias e meio. Tudo isto acontece em uma "grande cidade" que "espiritualmente se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado". Embora fique muito longo entrar nos detalhes desta profecia aqui, é possível fazer um resumo de alguns deles. No contexto das Escrituras, dias em profecia significam anos* (Números 14:34 e Ezequiel 4:7), portanto 1260 dias são 1260 anos e 3 dias e meio são 3 anos e meio. Os 1260 anos aparecem em outras profecias das Escrituras (Daniel 7, Daniel 12, Apocalipse 12 e 13). O estudo destas profecias estabelece o início dos 1260 anos em 538 a.C. e, portanto, eles terminariam em 1798 d.C. A imagem das duas testemunhas remete para a profecia em Zacarias 4. O profeta Zacarias viu um castiçal com 7 lâmpadas tendo uma oliveira em cada um dos seus lados. Ele pergunta ao anjo que lhe mostra estas
coisas o que era aquilo. O anjo começa sua explicação dizendo que aquilo era a palavra do Senhor.
Mas Zacarias ainda não entende e pergunta especificamente o que são as 2 oliveiras junto ao castiçal. O anjo então responde que elas "são os dois ungidos, que assistem junto ao Senhor de toda a terra". (Note o que é dito sobre as duas testemunhas em Apocalipse 11:4: "Estas são as duas oliveiras e os dois candeeiros que estão diante do Senhor da terra.") Estes dois ungidos que o anjo diz que são a palavra do Senhor são as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento que durante a Idade Média (1260 anos) eram proibidas de serem lidas e interpretadas pelos leigos (pessoas que não fossem sacerdotes) e, portanto, davam o seu testemunho vestidas de saco. No Antigo Testamento, quando alguém se vestia de pano de saco isto significava uma grande tristeza, luto, consternação ou vergonha e humilhação (Gênesis 37:34; 1 Reis 21:27; 2 Reis 6:30; 2 Reis 19:1). Ao final dos 1260 anos, em 1798, estava em andamento a Revolução Francesa. Mas e quanto aos 3 dias e meio em que as testemunhas estiveram mortas?

Quando começou a Revolução Francesa, o clero possuía privilégios especiais. Em 11 de novembro de 1793 a Bíblia foi suprimida através de um decreto e em novembro de 1796 foi decretada tolerância à Bíblia, mas esse decreto só entrou em vigor a partir de junho de 1797. Durante a Revolução Francesa a religião foi abolida, os sacerdotes obrigados a abdicar de sua religião, muitos foram mortos e outros fugiram. O Egito é apresentado na Bíblia como uma nação que negou a Deus (Êxodo 5:2) e Sodoma como um povo onde imperava a dissolução (Jeremias 23:14 e Ezequiel 16:49). Estas duas coisas aconteceram na França durante a revolução. Em 10 de novembro de 1793, Bíblias foram queimadas.

Os franceses festejaram sua nova condição realizando homenagens à deusa da razão na catedral francesa. Em Apocalipse é mencionada a grande cidade de Babilônia (Apocalipse 14:8, 16:19, 17:5, 18:2 e 18:10 e 21). Esta cidade representa o oposto a cidade de Jerusalém. Jeresalém era a sede do povo de Deus, Babilônia era a sede dos inimigos do povo de Deus (destruiram Jerusalém e levaram os judeus em cativeiro). Roma em suas fases pagã e papal assumiu esse papel (inimiga do povo de Deus).

Após 3 anos e meio, devido a tanto horror e confusão, a religião foi readmitida. Após isto, surgiram as Sociedades Bíblicas e a Bíblia começou a ser traduzida e distribuída em milhares de línguas e dialetos. Como foi predito:

``E depois daqueles três dias e meio o espírito de vida, vindo de Deus, entrou nelas, e puseram-se sobre seus pés, e caiu grande temor sobre os que os viram. E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi para cá. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos as viram. E naquela hora houve um grande terremoto, e caiu a décima parte da cidade, e no terremoto foram mortos sete mil homens; e os demais ficaram atemorizados, e deram glória ao Deus do céu. É passado o segundo ai; eis que cedo vem o terceiro.'' Apocalipse 11:11--14.}

Um historiador descreveu a revolução como um terremoto. (Terremoto.)

Embora Deus não determine a história humana, pois os homens têm liberdade de escolha, Ele conhece o futuro (e isto deveria ser admitido ao menos como uma possibilidade aqui). A interferência, no caso, não é ostensiva, e sim, persuasiva. Explicando: Ele conhece o futuro e o revela aos seres humanos influenciando as escolhas que eles fazem.

*Nota: Esta interpretação de dias significando anos é confirmada pelo cumprimento histórico das várias profecias com períodos de tempo especificados. Um exemplo é a profecia em Daniel 9:23-27 das 70 semanas. O anjo fala a Daniel, no verso 25, que desde a saída da ordem para reedificar Jerusalém até o Ungido (Messias) haveria 7 semanas e 62 semanas. A ordem ou decreto para a restauração de Jerusalém depois que foi assolada pelos babilônios saiu em 457 a.C. pelo rei Artaxerxers I da Pérsia. 7 semanas têm 49 dias, ou seja, anos, e esse foi o tempo para a reconstrução do templo de Jerulalém, a respeito do qual Daniel estava orando antes do anjo se apresentar. Mais 62 semanas seriam 483 dias ou anos e, a contar de 457 a.C., eles terminam em 27 d.C., ano em que Jesus se batiza no rio Jordão e é oficialmente "ungido" para o seu ministério. Na última semana que falta para as 70, ou últimos 7 anos, o anjo afirma que o Ungido faria uma aliança com muitos por uma semana e faria cessar os sacrifícos na metadade da semana. A partir de seu batismo Jesus curou e pregou o evangelho por 3 anos e meio, depois foi crucificado, em 31 d.C, ocasião em que o véu do santuário se rasgou e os judeus deixaram, a partir de então, de oferecer sacrifícios de animais, e, por mais 3 anos e meio, até o ano 34 d.c., os discípulos de Jesus pregaram o evangelho aos judeus, quando então, um discípulo chamado Estevão foi apedrejado e os discípulos restantes se espalharam por outras terras para pregar o evangelho aos gentios. Além desta profecia, existem várias outras em que as datas previstas através da interpretação dias=anos conferem com os cumprimentos históricos.

Referências:
A Revolução Francesa
Culto da Razão
Queima de Bíblias: Journal of Paris, 1793, No. 318.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Obrigada



Por chegar e me fazer acreditar
Em coisas que já tinha esquecido
Por sua capacidade de amar
Por cada gesto desprendido

Por seu jeito de menino
E coração fraternal
Por seu tato fino
E olhar angelical

Por ser tão suave
E ao mesmo tempo tão forte
Por encontrar a chave
Que abre os tesouros da sorte

Por construir um castelo
Para a estrela brilhante
Por um coração tão belo
E um sorriso contagiante!

Por ser puro e espontâneo
Como uma criança
Mas firme e idôneo
Como o brilho da esperança!

Por sua alma dourada
Por ser o filho que não nasceu
Por ser fiel a sua amada
E restaurar a esperança que morreu

Obrigada por existir
E estar nas mãos de Deus
Por minha fé restituir
Quando ao mundo eu disse adeus!

terça-feira, 23 de março de 2010

Os Manuscritos do Mar Morto

Em 1947, um garotinho beduíno saiu à procura de algumas cabras perdidas e encontrou diversos jarros com pergaminhos em um gruta na região de Qumran, próximo ao Mar Morto. Outras cavernas foram posteriormente investigadas. Entre os rolos, havia muitas cópias do Antigo Testamento datadas de 300 a.C.

A enciclopédia online Wikipédia diz o seguinte sobre estes manuscritos:

"Antes da descoberta dos Rolos do Mar Morto, os manuscritos mais antigos das Escrituras Hebraicas datavam da época do nono e do décimo séculos da era cristã. Havia muitas duvidas se se podia mesmo confiar nesses manuscritos como cópias fiéis de manuscritos mais antigos, visto que a escrita das Escrituras Hebraicas fora completada bem mais de mil anos antes.

Mas o Professor Julio Trebolle Barrera, membro da equipe internacional de editores dos Rolos do Mar Morto, declarou: 'O Rolo de Isaías [de Qumran] fornece prova irrefutável de que a transmissão do texto bíblico, durante um período de mais de mil anos pelas mãos de copistas judeus, foi extremamente fiel e cuidadosa.'" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Manuscritos_do_Mar_Morto).

O interessante é que no livro de Isaías encontramos uma profecia sobre o futuro Messias de Israel. O texto é o que se encontra abaixo em uma versão online da Bíblia para o português:

"Eis que o meu servo procederá com prudência; será exaltado, e elevado, e mui sublime. Como pasmaram muitos à vista dele (pois o seu aspecto estava tão desfigurado que não era o de um homem, e a sua figura não era a dos filhos dos homens), assim ele espantará muitas nações; por causa dele reis taparão a boca; pois verão aquilo que não se lhes havia anunciado, e entenderão aquilo que não tinham ouvido.
Quem deu crédito à nossa pregação? e a quem se manifestou o braço do Senhor?
Pois foi crescendo como renovo perante ele, e como raiz que sai duma terra seca; não tinha formosura nem beleza; e quando olhávamos para ele, nenhuma beleza víamos, para que o desejássemos.
Era desprezado, e rejeitado dos homens; homem de dores, e experimentado nos sofrimentos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e carregou com as nossas dores; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido.
Mas ele foi ferido por causa das nossas transgressões, e esmagado por causa das nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.
Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas, cada um se desviava pelo seu caminho; mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós.
Ele foi oprimido e afligido, mas não abriu a boca; como um cordeiro que é levado ao matadouro, e como a ovelha que é muda perante os seus tosquiadores, assim ele não abriu a boca. Pela opressão e pelo juízo foi arrebatado; e quem dentre os da sua geração considerou que ele fora cortado da terra dos viventes, ferido por causa da transgressão do meu povo?
E deram-lhe a sepultura com os ímpios, e com o rico na sua morte, embora nunca tivesse cometido injustiça, nem houvesse engano na sua boca.
Todavia, foi da vontade do Senhor esmagá-lo, fazendo-o enfermar; quando ele se puser como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade, prolongará os seus dias, e a vontade do Senhor prosperará nas suas mãos.
Ele verá o fruto do trabalho da sua alma, e ficará satisfeito; com o seu conhecimento o meu servo justo justificará a muitos, e as iniqüidades deles levará sobre si.
Pelo que lhe darei o seu quinhão com os grandes, e com os poderosos repartirá ele o despojo; porquanto derramou a sua alma até a morte, e foi contado com os transgressores; mas ele levou sobre si o pecado de muitos, e pelos transgressores intercedeu." Isaías 52: 13-15 e cap. 53.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Sonho do Eleitor

O texto que segue é uma tradução de extratos da obra de D'Aubigne,
"History of the Reformation of the Sixteenth Century" (História
da Reforma do Sexto Século), livro 3, capítulos 4 e 5.

O eleitor Frederico da Saxônia, dizem as crônicas da época, estava em seu palácio de Schweinitz, seis léguas de Wittenberg, quando, em 31 de outubro, cedo de manhã, estando com seu irmão, o duque Jonh, que era então co-regente, e que reinou sozinho após sua morte, e com seu chanceler, disse: "Devo contar-lhe um sonho, irmão, que tive na última noite, e do qual eu gostaria de saber o significado. Ele está tão firmemente gravado em minha memória que nunca o esquecerei, mesmo se eu vivesse mil anos; pois ele ocorreu três vezes, e sempre com novas circunstâncias."

Duque John: -"Foi um sonho bom ou mau?"

O eleitor: -"Não sei dizer: Deus o sabe."

Duque John: -"Não se perturbe com isso: deixe-me ouvi-lo."

O eleitor: -"Tendo ido para a cama na noite passada, cansado e desanimado, logo adormeci após minhas preces, e dormi calmamente por cerca de duas horas e meia. Então despertei e todos os tipos de pensamentos ocuparam-me até a meia-noite. Refleti sobre como observaria o festival de Todos-os-Santos; orei pelas almas miseráveis no purgatório e pedi que Deus me guiasse, meus concílios e meu povo, de acordo com a verdade. Então adormeci novamente, e sonhei que o Todo-poderoso enviou-me um monge, que era um verdadeiro filho de Paulo, o Apóstolo. Ele estava acompanhado de todos os santos, em obediência à ordem de Deus, para dar seu testemunho, e para assegurar-me de que ele não veio com qualquer intenção fraudulenta, mas que tudo o que ele faria estava de acordo com a vontade de Deus. Eles pediram minha generosa permissão para deixá-lo escrever alguma coisa nas portas da capela do palácio de Wittenberg, o que concedi através de meu chanceler. Nisto, o monge se dirigiu para lá e começou a escrever; tão grandes eram os caracteres que eu pude ler de Schweinitz o que ele estava escrevendo. A pena que ele usou era tão longa que sua extremidade alcançou Roma, onde ela penetrou nos ouvidos de um leão que estava ali e sacudiu a triplice coroa na cabeça do papa. Todos os cardeais e príncipes correram rapidamente e se esforçaram para sustentá-la. Você e eu oferecemos nosso auxílio: eu estiquei meu braço... neste momento acordei com meu braço estendido, com grande preocupação e muito zangado com esse monge, que não conseguia controlar melhor sua pena. Recuperei-me um pouco... era apenas um sonho.

"Estava ainda meio adormecido, e mais uma vez fechei meus olhos. O sonho começou novamente. O leão, ainda perturbado pela pena, começou a rugir com toda a sua força, até que toda a cidade de Roma, e todos os estados do Santo Império, correram para saber qual era o problema. O papa chamou-nos para nos opormos a esse monge, e dirigiu-se particularmente a mim, porque o frade estava vivendo em meus domínios. Acordei novamente, repeti a oração do Senhor, roguei a Deus para preservar sua santidade e adormeci. ...

"Então sonhei que todos os príncipes do império, e nós com eles apressamo-nos para Roma, e nos esforçamos um após o outro para quebrar sua pena; mas quanto maior nosso empenho mais forte ela se tornava: ela estalava como se tivesse sido feita de ferro, desistimos sem esperança. Então perguntei ao monge (pois estava ora em Roma, ora em Wittenberg) onde ele havia obtido aquela pena, e como ela se tornou tão forte. 'Esta pena', respondeu ele, 'pertenceu a um ganso da Boêmia há cem anos. Eu a obtive de um de meus antigos mestres. Ela é tão forte porque ninguém pode extrair seu cerne, e eu mesmo estou espantado com isto.' Subitamente eu ouvi um alto clamor: da longa pena do monge tinha sido emitido um exército de outras penas. ... Acordei pela terceira vez: era dia claro."

Duque Jonh: -"Qual a sua opinião, Sr. Chanceler? Teremos aqui um José, ou um Daniel, ensinado por Deus!"

Chanceler: -"Sua alteza conhece o provérbio vulgar, que os sonhos das jovens, homens sábios e grandes senhores têm geralmente algum significado oculto. Mas não ficamos sabendo o significado destes por algum tempo, até que os eventos tenham ocorrido. Por este motivo, confie seu cumprimento a Deus, e deposite tudo em suas mãos."

Duque Jonh: -"Minha opinião é a mesma que a sua, Sr. Chanceler; não é apropriado para nós torturar nossas mentes para descobrir a interpretação deste sonho: Deus dirigirá tudo para sua glória."

O eleitor: -"Que nosso Deus fiel assim o faça! Ainda que nunca esquecerei este sonho. Tenho pensado em uma interpretação... mas me conterei. O tempo mostrará, possivelmente, se tenho conjecturado corretamente." ...

Em 31 de outubro de 1517, ao meio dia do dia anterior ao festival, Lutero, que tinha já predisposto sua mente, caminha ousadamente em direção à igreja, para a qual uma multidão supersticiosa de peregrinos estava se dirigindo, e posta na porta noventa e cinco teses ou proposições contra a doutrina das indulgências. Nem o eleitor, nem Staupitz, nem Spalatin, nem mesmo qualquer de seus mais íntimos amigos tinha sido informado de suas intenções.

sábado, 13 de março de 2010

O que realmente importa

O que realmente importa

Não é a embalagem, mas o conteúdo

Não é como alguém se comporta

Mas o motivo por trás de tudo


O que realmente importa

Não são palavras que exprimimos

Mas o que nos conforta

É o que de fato sentimos


O que realmente importa

Não é estar longe ou perto

Mas fazer de si mesmo uma porta

Por onde entrar de coração aberto


O que realmente importa

Não é o tudo por que passamos

Se nossa estrada foi direita ou torta

Mas quanto realmente amamos.


terça-feira, 9 de março de 2010

Rótulos

Um fato que me impressiona é o modo como nós, seres humanos, costumamos rotular as outras pessoas. Por exemplo, basta alguém se vestir de preto e usar franja para se dizer que é emo. Ou ter convicções religiosas para ser considerada fundamentalista ou mística. O problema desta abordagem simplista e superficial de criar "pacotes" de comportamentos para distinguir as pessoas é que deixamos de ouvir o que elas têm a dizer. Damos uma olhada nelas e as colocamos em determinado "pacote". Com isto temos a ilusão de que já sabemos o que importa sobre elas e o que elas têm a dizer, porque temos uma lista de itens que caracterizam as pessoas do "pacote".
Li em uma ocasião que as pessoas raramente perguntam, ao ouvir algo, se aquilo é verdade, mas ao invés: "quem acredita nisto?" E se aqueles que têm mais prestígio entre elas, como phds ou líderes religiosos, ou ainda, a maioria, não acredita naquilo, então elas também não. Desta forma, renunciam ao próprio raciocínio e se submetem ao julgamento de outros.

Palavras são ouvidas, mas o preconceito impede que os argumentos sejam avaliados imparcialmente. Contaram-me sobre um filme que foi feito a respeito de um caso que aconteceu nos Estados Unidos há anos atrás. Uma menina negra foi estuprada por um homem branco e seu pai matou o estuprador. O pai foi preso e ia receber uma forte condenação. O advogado fez sua defesa esmiuçando os terrores pelos quais a criança passou e o que ela sofreu, mas o que foi crucial na decisão dos jurados foi a frase com a qual ele terminou seu relato: "Agora imaginem que esta menina era branca."

Da próxima vez em que você encontrar alguém, esqueça suas roupas, sua posição social, sua cor, sua opção sexual, sua religião e imagine que esta pessoa é alguém que tem credibilidade no seu conceito. Feche os olhos e imagine que é aquela pessoa falando. O que ela diz faz sentido?

Obs: Não defendo a posição de se fazer justiça pelas próprias mãos, mas, este caso do pai não podia ser igualado ao de alguém que planejou um assassinato ou que matou durante um assalto.

sábado, 6 de março de 2010

Darwin e Origem das Espécies

Há mais ou menos um ano eu li o livro de Darwin On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Terminei o curso de Biologia, fiz mestrado e nunca tinha lido este livro. E o que me surpreendeu foi que ao invés de me entediar, achei muito interessante. Gostei muito da leitura. Aproveitei o impulso e li a biografia de Darwin, afinal, o mundo estava comemorando os 150 anos de A Origem das Espécies e os 200 anos do nascimento de Darwin. Na ocasião, escrevi algumas coisas em função do que li e transcrevo uma parte delas aqui.

Em 1859, foi publicado o livro de Charles Darwin, A Origem das Espécies (em inglês: On the Origin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favoured Races in the Struggle for Life. Na introdução de seu livro, Darwin descreve como chegou a ele e às conclusões ali expressas.

Darwin relata que, durante sua viagem a bordo do Beagle, alguns fatos pareciam lançar "alguma luz sobre a origem das espécies". Em seu retorno, pareceu-lhe que algo poderia ser feito a respeito desta questão por pacientemente reunir fatos e refletir sobre eles. Após cinco anos, ele se permitiu "especular sobre o assunto" e redigiu algumas notas que ampliou em 1844 em um esboço das conclusões. Três anos mais tarde, sua obra estava quase finalizada. Ele informou que seu "resumo" estava "necessariamente imperfeito" e que ele não podia fornecer "referências e autoridades" para suas declarações, em que, sem dúvida, seriam encontrados "erros". Ele sentia necessidade de publicar, posteriormente, em "detalhes todos os fatos, com referências", sobre os quais suas "conclusões estavam baseadas". Ele estava cônscio de que "escassamente um único ponto foi discutido neste volume a respeito do qual não podem ser aduzidos fatos".

Darwin inicia sua reflexões sobre a origem das espécies descrevendo as variações induzidas pelo homem em espécies de plantas e animais domésticos. Em seu próximo capítulo ele relata a ampla variação que ocorre dentro das espécies na natureza, dificultando, muitas vezes, o classificá-las como variações ou outras espécies. Ele sugere que estas variações fariam parte do processo de surgimento de novas espécies. A seguir, é delineada a luta-pela-existencia, baseada nas idéias de Malthus, com a conclusão de que pequenas mudanças em uma espécie, de algum modo favoráveis, seriam retidas e passadas às próximas gerações, configurando-se assim uma "seleção-natural", que seria realizada pela natureza ao invés da seleção artificial realizada pelo homem. A luta pela existência
levaria à inevitável extinção de espécies menos adaptadas. O processo da seleção natural de espécies mais adaptadas seria contínuo e lento, acumulando variações ao longo de extensos períodos geológicos. Durante sua viagem no Beagle, Darwin leu o livro Princípios da Geologia de Charles Lyell, que
propunha longos períodos de tempo de mudanças graduais para o estabelecimento das configurações geológicas.

Entre os sexos, a seleção ocorreria não devido a uma luta pela existência, mas a uma disputa entre os
machos pelas fêmeas, sendo vitoriosos e produzindo descendência mais numerosa os machos mais fortes ou aqueles portando características mais atraentes para as fêmeas. Isto determinaria que estas características fossem fortalecidas na espécie enquanto as dos machos menos bem sucedidos enfraquecidas e, talvez, até extintas. O isolamento geográfico seria um elemento importante na seleção natural, pois detendo a imigração de variedades mais adaptadas e a competição, premitiria a uma outra variedade ser lentamente aprimorada e produzir uma nova espécie. A seleção natural levaria a divergência de caracter: quanto mais seres vivos existissem na mesma área, mais eles divergiriam em estrutura, hábitos e constituição.
Na luta das espécies para aumentaram seus números, quanto mais diversificados os descendentes se tornassem melhores seriam suas chances de sobrevivência.

Como motivo para não se encontrarem especies-intermediarias no registro-geologico, Darwin alega a extrema imperfeição deste registro. Comenta as dificuldades de preservação dos fósseis. Partes moles não podem ser preservadas, partes duras como conchas e ossos se desfazem quando depositadas no fundo do oceano, onde sedimento não se acumula. Restos que são envolvidos por areia ou cascalhos são dissolvidos por percolação da água da chuva por ocasião do erguimento do leito. O sedimento acumulado deveria ser extremamente espesso, sólido ou formado por extensas massas para resistir à incessante ação das ondas quando erguido e sofrendo posteriores oscilações de nível. Uma camada fossífera espessa e extensa só poderia se acumular durante um período de subsidência, mas o mesmo movimento de subsidência tenderia a afundar a área fazendo derivar o sedimento. Seria necessário um equilíbrio exato entre a subsidência e o suprimento de sedimento para preservar o registro.

Em sua revisão do livro, no último capítulo, Darwin declara que acreditava que todos os animais descendiam de, no máximo, quatro ou cinco progenitores e as plantas de um número menor ou igual. Ele escreve que, a partir das semelhanças entre todos os seres vivos, tais como composição química, estrutura celular e leis de crescimento e reprodução, ele infere que provavelmente todos os seres orgânicos tenham descendido de uma única forma primordial. ...

Deixando de lado as definições e considerando a obra de Charles Darwin, A Origem das Espécies, é inegável que ela é extremamente coerente, produto de amplas observações da natureza e profundas reflexões, das quais ele conseguiu extrair alguns fatos e princípios bem estabelecidos, como variações, seleção natural e características fixadas e herdáveis nos organismos.

Por mais que o raciocínio de Darwin tenha sido brilhante e encontre correspondência na natureza, sua obra não pode ser chamada de teoria, do ponto de vista rigorosamente científico, senão no sentido popular da palavra. Isto porque, como já foi mencionado [no texto original],
uma teoria, cientificamente falando, é uma estrutura matemática. Outras definições para a palavra teoria nos fariam cair no terreno inseguro das racionalizações e paradigmas humanos elevados a categoria de verdades absolutas que não podem ser contestadas unicamente porque alguns seres humanos acreditam que seu raciocínio é melhor do que o dos outros.

Darwin, no entanto, na introdução da "Origem", se mostrou consciente de que suas reflexões eram especulações, como ele mesmo disse, de que sua obra estava imperfeita e incompleta e de que faltavam fatos para aduzirem suas idéias. Por mais que algumas idéias pareçam boas, é preciso que se tenha em mente que quando as coisas são devidamente formalizadas em uma estrutura matemática, surgem muitos dados que não se consegue prever com o raciocínio não formal.

Uma declaração de Darwin, por exemplo, que hoje é tratada como um fato que não pode ser contraditado, pelo menos não se admite outra explicação, é a de que todos os seres orgânicos teriam descendido de poucas ou de uma única forma primordial. Ele conclui isto baseado em semelhanças entre todos os organismos. Isto é uma hipótese, que não foi devidamente testada, diga-se de passagem, pode ser uma boa hipótese, mas é apenas isto.

Existem muitas observações, experimentos, técnicas e modelos computacionais e matemáticos sendo relizados para esclarecer mecanismos de especiação, seleção, proximidade e divergência entre espécies (baseadas no genoma, por exemplo).
Mas quanto eu saiba, não existe nenhum experimento, modelo computacional ou matemático demonstrando (que não seria a mesma coisa que mostrar que é possível) que todos os organismos vivos têm um único ancestral comum.

Dez trilhões de cientistas acreditando em uma idéia não tornam esta idéia mais científica do que qualquer outra se ela não pode ser demonstrada.