sábado, 20 de novembro de 2010

Misticismo X Racionalidade

Parece, para muitos, que a humanidade se divide em dois grandes grupos: místicos e racionais ou, no máximo, alguma combinação em diferentes proporções destes dois grupos.

O pensamento místico incluiria qualquer tipo de crença no sobrenatural ou mágico, enquanto o pensamento racional estaria baseado na lógica e no método científico.

Nessa visão de mundo, os místicos seriam guiados principalmente por sensações e intuição, ao passo que os racionais seriam dirigidos pela razão e evidências observáveis. Contudo, a maioria das pessoas se posicionaria em uma espécie de intersecção destes dois tipos básicos. Muitas vezes manifestando pensamentos que estariam em oposição entre si.

Essa visão dualista do mundo parece subjacente à mente das pessoas quando considerando temas relacionados a ciência e religião.

Na verdade, há nós nessa concepção de mundo, que se não forem desembaraçados, tornam difícil tratar dos temas acima com clareza imparcial.

Começo pelas definições de místico e racional. Místico é uma palavra de origem grega que significa "iniciado em uma religião de mistérios" (http://pt.wikipedia.org/wiki/Misticismo). Eu parto do princípio de que todo o místico é religioso, mas nem todo o religioso é místico. Para ficar clara esta proposição, é preciso primeiro conceituar o termo religião. A etimologia da palavra é latina (religio). "O significado não é claro. Cícero (106-43 a. C.) no De Natura Deorum afirma que a palavra vem da raiz relegere ('considerar cuidadosamente'), oposto de neglere, descuidar. Já Lactâncio, escritor cristão (m. 330 d.C.), diz que vem de religare ('ligar', 'prender')." (http://www.ceismael.com.br/artigo/papel-da-religiao.htm, citando a Enciclopédia Luso-Brasileira).

Então, em princípio, um religioso seria alguém que considera cuidadosamente algo ao qual ele está ligado. Bem, mas a partir desta definição poder-se-ia concluir que todos são religiosos e muitas pessoas consideram-se não religiosas, por exemplo: ateus, agnósticos, céticos, materialistas, hedonistas, humanistas e muitos cientistas. Eu acredito que o ser humano é intrinsicamente religioso não importa aquilo em que acredite. Essa religiosidade não precisa se manifestar como crença no sobrenatural ou no culto a alguma divindade. (A Medicina parece ter encontrado o local da experiência religiosa no cérebro humano: o lobo temporal, http://www.bbc.co.uk/science/horizon/2003/godonbrain.shtml) O "deus" de muitas pessoas é qualquer coisa a que ela se sente tão ligada, dedica tanta energia e identifica-se de tal maneira que, se ela perdesse tal motivação, ela se sentiria perdida, vazia. Pode ser uma ideologia, um modo de vida, uma outra pessoa ou conjunto de pessoas, coisa materiais ou mesmo o estar centrada em si mesma.

Muitas pessoas sentir-se-iam desconfortáveis com este tipo de definição por causa das implicações relacionadas quando se subentende que todo o religioso é um místico.

Voltemos então à definição de místico: "iniciado em uma religião de mistérios". Vimos que, pela minha definição, qualquer pessoa pode ser considerada religiosa, creia ou não no sobrenatural (algo que esteja acima ou além da natureza). Mas será que qualquer um que creia que há algo ou alguém fora ou acima da natureza é um místico? Alguém que crê no sobrenatural pode ser racional sem ser uma mistura antagônica de pensamentos conflitantes? Alguém que se considera racional (baseia-se na razão), pode não estar baseando suas crenças em coisas tão objetivas quanto ele julga que são?

Para responder à primeira pergunta é preciso resolver primeiro a questão de algo ou alguém acima da natureza ser ou não um mistério (no sentido de inacessível e/ou incompreensível).

Ao longo da história, a maioria das crenças no sobrenatural e/ou mágico tem se caracterizado pela falta de explicações razoáveis e, portanto, ausência de compreensão. A maioria das crenças em divindades, mesmo a maior parte da religiosidade baseada no Deus dos cristãos, tem-se caracterizado pelos mesmos problemas. Poder-se-ia concluir que qualquer crença no sobrenatural seja caracterizada pelo misticismo, mas eu pretendo discutir algumas das evidências históricas de que, ao longo dos séculos, tem havido entre os seres humanos, uma crença em um ser sobrenatural, que não é absolutamente inacessível e incompreensível e que, ao contrário, existem muitas evidências que podem ser testadas por aqueles que desejam ser racionais.