segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Guerra Cósmica

Eu tenho escrito algumas vezes neste blog sobre temas relacionados à
história da religião em nosso mundo, especialmente da religião bíblica.
Do meu ponto de vista, eu diria até, do ponto de vista de quem tem uma
visão panorâmica da história e profecias bíblicas, tudo o que
aconteceu ou ainda irá acontecer neste planeta é perfeitamente
coerente e, até certo ponto, previsível. Um problema insolúvel para muitos, mesmo para alguns que supostamente têm um conhecimento razoável dos textos bíblicos, é a questão da existência de sofrimento e injustiça em um Universo que teria sido criado por um Deus bom. Como e por que um Deus bom e totalmente poderoso poderia ter deixado estas coisas acontecerem?
No contexto da Bíblia, independente de alguém crer ou não nela, podem ser encontradas respostas coerentes para questões como esta acima?
Neste post pretendo começar a mencionar algumas das principais bases para entendermos a explicação e a solução bíblica para esses problemas.

A ficção está cheia de relatos de guerras cósmicas, "Guerra nas
Estrelas" (Star Wars) é o exemplo mais contemporâneo e famoso de que
me recordo. A ficção é interessante não pela própria ficção, mas
pelo que ela nos ensina sobre a mente de seus autores. A maioria das
histórias de ficção começa com razoável tranquilidade, de forma a nos
familiarizarmos com personagens e ambiente, suscita uma crise ou
problema a ser resolvido e termina com algum tipo de solução boa ou
não. Isto demonstra um esquema básico subjacente na mente da quase
totalidade dos autores de ficção. Alguém já leu ou assistiu a alguma
história de ficção em que tudo esteja bem do início ao fim da história?
Já pararam pra pensar por que isto acontece? Provavelmente muito
poucos leriam ou assistiriam a essa história. Por um lado, a mente
humana sente necessidade de resolver problemas e, por outro, não
existiria o mínimo de identificação. Ninguém vive em um "mar de
rosas", mas todo mundo desejaria viver. A ficção tem apelo com base
em nosso desejo de resolver desafios.

Esse esquema básico - início tranquilo, crise e
resolução - que encontramos nos relatos de ficção e que parece fazer parte de nosso inconsciente coletivo já se encontra em um relato muito antigo: o da Guerra cósmica.

Podemos encontrar essa história na Bíblia (mas não exclusivamente
nela). Seus detalhes podem ser encontrados ao longo da Bíblia toda: de
Gênesis ao Apocalipse. Recuando o máximo possível na história
bíblica do Universo nos deparamos com o livro de Provérbios, capítulo
8. Ali encontramos a sabedoria falando aos homens em primeira pessoa
como a obra mais antiga de Deus: "O Senhor me criou como a primeira das
suas obras, o princípio dos seus feitos mais antigos. Desde a
eternidade fui constituída, desde o princípio, antes de existir a terra."
Versos 22 e 23. O texto prossegue enumerando itens que foram criados
na Terra. Mas esta primeira coisa criada, constituída desde a
eternidade, tem a ver com os planos de Deus ao estabelecer planetas
com seres vivos, o "know-how" ou sabedoria envolvidos. A eternidade
refere-se à situação em que unicamente Deus pode estar: fora do espaço-tempo.
Este conceito de espaço-tempo é bastante recente, de forma que os
escritores hebreus do Antigo e Novo Testamentos não tinham como
entendê-lo. No entanto, o escritor do livro de Hebreus emprega uma
palavra (grega, que era a língua mais popular nos tempos do Novo
Testamento) que podemos relacionar com este conceito no capítulo 11,
verso 3: "Pela fé entendemos que os mundos foram criados pela palavra de
Deus; de modo que o visível não foi feito daquilo que se vê." A
palavra que é aqui traduzida como "mundos" é, transliterando,
"aionas". Esta palavra é traduzida como século(s), para sempre, eternamente
ou mundo(s) nos textos bíblicos (Mat 6:13, Lucas 1:33,
Romanos 1:25; 9:5; 11:36; 16:27
2 Cor 11:31, Gal 1:5, Filip 4:20, 1 Tim 1:17, 2 Tim 4:18,
Heb 1:2; 11:3; 13:8; 13:21, 1 Pe 4:11; 5:11, Judas 1:25,
Apoc 1:6,18; 4:9,10; 5:13,14; 7:12; 10:6; 11:15; 14:11; 15:7; 19:3; 20:11; 22:5), ou seja, traduz a idéia de tempo e, por implicação,
em alguns textos, de espaço. Até aqui vimos que na Eternidade Deus elaborou a sabedoria subjacente ao plano básico de mundos com seres vivos, depois Ele criou "aionas" ou espaço-tempo (no Big Bang). Então utilizou esta infra-estrutura (espaço-tempo)
para criar mundos ou planetas. O nosso não teria sido
o primeiro mundo a ser criado, pois quando ele o foi, outros seres já
existentes se alegraram: "Onde estavas tu, quando eu lançava os
fundamentos da terra? Faze-mo saber, se tens entendimento...quando juntas cantavam as estrelas da manhã, e todos os filhos de
Deus bradavam de júbilo?" Jó 38:4-7. Este texto diz que outros seres que não eram seres humanos se alegraram quando a Terra foi criada: "estrelas da manhã" e "filhos de Deus". Estrela é uma palavra utilizada na Bíblia como símbolo para anjo (Apocalipse 1;20, Isaías 14:12-13), filhos de Deus seriam outros seres inteligentes que não os humanos. A Bíblia descreve um lugar onde seria a sede do governo de Deus neste Universo, o Céu (poderia ser um planeta), em que viveriam os anjos com Deus (1 Reis 8:39, Prov. 11:4, Salmo 103:19, Isaías 37:16, Isaías 6:1-2, Apoc 4:1-3 e 5:11). A palavra anjos é a tradução de uma palavra grega que significa mensageiro. Anjo é uma função que uma classe de seres inteligentes de diferentes espécies exerce no governo de Deus. A guerra cósmica que inspirou o título deste post é relatada na Bíblia como tendo começado neste local entre esta classe de seres inteligentes.
Uma característica dos seres inteligentes é a liberdade de escolha. Um universo sem liberdade de escolha por parte dos seres inteligentes seria um universo de autômatos sem vontade própria.

Poderíamos nos perguntar por que Deus (segundo a Bíblia, uma entidade formada por 3 pessoas: Gên. 1:2, 26; João 1:1-3; Mateus 28:19) teria tido o desejo de criar seres com vontade própria semelhantes a Ele? Em Isaías 43:7 é-nos dito que Ele criou pessoas para Sua glória e em Êxodo 33:18 e 19, Deus diz a Moisés que Sua glória é Sua bondade. Portanto, parece plausível entender-se que, em Sua bondade, Deus desejou compartilhar Sua felicidade com outros seres. Para que eles pudessem existir era preciso que possibilidades matemáticas se concretizassem na física, química e biologia de universos que tiveram de ser inventados.

Mas seres inteligentes teriam a possibilidade de se opor ao governo de Deus? Essa era uma possiblidade que não poderia ser descartada se a liberdade de escolha tivesse que ser preservada a qualquer custo. E, de fato, a Bíblia diz que isto ocorreu. A história é contada ao longo da Bíblia toda, no Antigo e Novo Testamentos. Ezequiel 28:11-15 conta a história de um anjo (querubim) sob a forma de uma lamentação sobre o rei de Tiro. É dito que ele era perfeito até que se achou nele iniquidade. Em Isaías 14:12-15, é dito que este anjo (estrela da manhã) cobiçou a posição de Deus (Seu poder e não Seu caráter). Também é dito que ele se tornou o pai da mentira e contudo se apresenta como anjo de luz com aparência de justiça (João 8:44, 2 Cor 11:14 e 15). Com mentira e aparência de justiça ele teria conquistado a simpatia de outros anjos e iniciado uma guerra na sede do governo de Deus em nosso universo (Apocalipse 12:7-9) e também, mais tarde, através do engano, arrastado os primeiros seres humanos em sua rebelião (Gên 3). Como ele e os anjos que o seguiram não se apresentam como são, mas enganam e se fazem de seres de luz, eles têm, desde há muito tempo, se comunicado com os seres humanos como espíritos de pessoas mortas (Deut 32:17, Salmo 106:28).

Esse anjo, mais tarde conhecido como Satanás, podia usar uma arma desconhecida até ali por outros seres inteligentes: o engano. Esta era uma arma que Deus não podia utilizar, pois é contrária a Seu caráter (Neemias 9:13, Salmo 25:10, Salmo 119:160). Deus só podia utilizar a verdade, amor e justiça nesta guerra. Podia eliminar os rebeldes no princípio da rebelião, mas uma vez que decidiu que existisse a liberdade de escolha não podia evitar que se rebelassem se assim o desejassem. Os seres inteligentes não conheciam o mal e seus resultados, eliminá-lo prematuramente apenas faria com que as criaturas servissem a Deus por medo e não por amor. A luta entre o bem e o mal deveria se desenvolver para que todos os seres inteligentes pudessem decidir voluntariamente. As consequências de escolher o mal deviam ser patenteadas aos olhos de todo o universo (1 Cor. 4:9, 1 Pedro 1:12). A Terra se tornou o campo de batalha porque foi o único planeta a se unir aos anjos em rebelião. Mas Deus planejou um meio de resgatar os seres humanos. Esta história continua.