quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Misticismo X Racionalidade: a religião na história contemporânea

Vimos, nos posts anteriores sobre misticismo X racionalidade que - utilizando uma definição do termo "religião" baseada no seu sentido original - todos os seres humanos são religiosos, ou se tornam "ligados" a algo; as histórias contadas no Antigo Testamento hebraico já eram conhecidas por povos de diferentes culturas ao redor de todo o globo mesmo antes de terem sido escritas pelos escritores hebreus; a religião praticada pelos cristãos durante a Idade Média era baseada na superstição e fundada na autoridade humana e, finalmente, a religião que emergiu durante a Reforma protestante, baseada na Bíblia, lançou as bases da Idade Moderna.

Mas a libertação que veio com a mudança nos parâmetros religiosos da Idade Média e que fez o mundo ocidental acordar para princípios como igualdade, individualidade e racionalidade, não foi naturalmente seguida por um mundo mais humano, racional e livre, apesar das filosofias humanistas e racionalistas. O quadro histórico que temos diante de nós é o da Revolução Francesa, que conquistou a liberdade e exaltou a Razão através de extrema violência e derramamento de sangue, as duas Grandes Guerras, o nazismo, o facismo, o marxismo na Rússia, as ditaduras militares, guerra fria, terrorismo, etc.

Porque o que temos diante de nós, comparando o mundo medieval com o mundo moderno, não é a oposição entre um mundo que seguia o cristianismo e a religião bíblica e um mundo que se libertou deste modelo e partiu em busca do progresso e desenvolvimento humanos. O que temos é um mundo que abandonou os princípios bíblicos (a Bíblia era um livro quase extinto na maior parte do período medieval), abandonou os princípios do cristianismo, colocou a autoridade de um ou poucos homens no centro, mas manteve os nomes e palavras relacionados ao cristianismo e à Bíblia enquanto matava seu verdadeiro significado. A Reforma despertou o mundo para o que estava acontecendo, mas, como eu disse antes, a religião bíblica é uma religião que raramente foi praticada ao longo da história da humanidade e, diga-se de passagem, sempre suscitou extrema oposição. No mundo moderno aconteceu algo semelhante, foram mantidos alguns dos ideais reativados pelo cristianismo, como igualdade, racionalidade e liberdade, mas a Bíblia e o Cristo que os fizeram reacender foram rejeitados. Como resultado, o homem foi colocado no centro novamente, não um ou poucos, mas o conceito de ser humano, enquanto o ser humano real continuou oprimido e escravizado por outros ou por si mesmo (vícios, crimes, ambição, loucura, etc).
E o que acontece com o mundo contemporâneo? Ele progrediu muito em termos materiais, sem dúvida, o conhecimento e tecnologia desenvolvidos não são igualados em nenhuma época anterior. Porque Ciência, o Método Científico em funcionamento, não recompensa a nenhum tipo específico de pessoa, sabendo-se usá-lo corretamente ele funciona, não vai discriminar ninguém pela raça (nazismo, racismo), nem pelas posses (capitalismo selvagem), nem pelo sexo (machismo, feminismo, homofobia) e nem pela filosofia (evolucionismo, criacionismo). Ciência é simplesmente um método pra se conhecer as coisas.

Mas em relação a religião, o mundo está voltando a Idade Média: misticismo, superstição e magia retornaram com força total. Na prática, não importa de que lado da balança o mundo esteja, uma coisa básica não muda: a ênfase no que o homem pode realizar por seus próprios esforços.

Não me entendam mal, por seus esforços o homem pode muita coisa e é desejável, mesmo necessário, que ele se esforce para produzir, conhecer, vencer obstáculos e melhorar a si mesmo e a outros, mas em termos de conseguir ultrapassar seu egoísmo natural (fonte dos piores males que afligem a humanidade), ele é totalmente impotente em seus esforços.

Entre as implicações das considerações acima se encontra o problema de se supor que se está sendo totalmente racional quando existem conceitos anteriormente aceitos que interferem no raciocínio, especialmente quando este não se baseia explicitamente no método científico, ou seja, em métodos matemáticos.

Em oposição às soluções humanas para o problema do egoísmo, a solução bíblica é uma nova criação do ser humano segundo Deus, a qual não produz uma justiça meramente exterior de um cidadão aparentemente exemplar, mas altera os motivos e intenções do coração ("e a vos revestir do novo homem, que segundo Deus foi criado em verdadeira justiça e santidade" Efésios 4:24).