domingo, 12 de dezembro de 2010

Misticismo X Racionalidade: a religião na história antiga

Continuando o tema proposto em Misticismo X Racionalidade, eu pretendo explorar um pouco as evidências na história humana de que pode haver uma religião fundamentada na crença em um Ser sobrenatural (acima e além da Natureza) que não seja mística, ou "uma religião de mistérios". Pode haver uma religião baseada em evidências e que pode mudar de acordo com elas.

Aqui, usamos a expressão "religião baseada em evidências" associada a dois sentidos:
(a) existem evidências que podem ser usadas para avaliar afirmações dessa religião e
(b) os ensinamentos dessa religião estimulam não uma fé cega, mas uma fé racional,
isto é, uma confiança desenvolvida pela avaliação de evidências.

Nesta série de posts, estamos abordando algumas informações relacionadas com esse tipo de religião.

Este tipo de religião, embora sendo uma manifestação rara em nosso mundo em termos de contingente humano engajado nela, tem tido um impacto significativo em todos os setores da sociedade humana ao longo dos séculos.

Existem evidências, por exemplo, de que vários dos conceitos e histórias escritos nos livros da Bíblia já eram conhecidos de vários povos ao longo do globo muito antes de serem escritos os primeiros livros bíblicos.

Antes de discorrer sobre os eventos e evidências relacionados à religião bíblica na história, faz-se necessária uma descrição suscinta do que compõe essa religião. Ela centraliza-se na revelação do Deus bíblico e traz uma mensagem que foi escrita em 66 livros por cerca de 40 autores ao longo de mais de 1500 anos. Os livros de Isaías e Ezequiel contam a história do início do mal no Universo, quando um dos seres criados por Deus, usando sua liberdade de escolha iniciou uma rebelião contra o governo de Deus e perdeu sua posição original neste governo. Esta rebelião foi permitida continuar a existir para que fossem julgados pelos seres inteligentes os seus efeitos e todos pudessem fazer suas escolhas a favor ou contra. No livro de Gênesis, encontramos o relato da criação da vida na Terra e a história da escolha dos seres humanos de ficarem do lado da rebelião. Como essa escolha não foi totalmente deliberada, mas os seres humanos foram ludibriados, eles receberam um tempo de teste do governo de rebelião na Terra. Deus, embora não se manifestando de forma direta aos seres humanos depois de sua rebelião, elaborou um plano para esclarecê-los e resgatá-los para o estado de harmonia com Ele novamente. Aceitar ou não este plano é uma questão individual de cada ser humano pensante. A Bíblia conta a história destas duas rebeliões, da promessa de um Redentor, da perda exponencial por parte dos seres humanos da capacidade de compreender e aceitar a Deus e seu plano, à medida em que faziam más escolhas. Fala do consequente embotamento das faculdades morais e de discernimento claro entre o bem e o mal, do dilúvio, da escolha de pessoas para serem porta-vozes de Deus, da escolha do povo de Israel para se tornar um exemplo para os outros povos das características do governo de Deus sobre a Terra. Apresenta Israel como a nação da qual surgiria o Redentor, as profecias sobre eventos relacionados com o plano de redenção e desdobramentos históricos das ações humanas, os constantes afastamentos do povo de Israel do plano de Deus, a divisão do povo de Israel em dois reinos, o esfacelamento da maioria de Israel pelos assírios e o cativeiro babilônico dos judeus. Descreve o retorno do exílio e a recontrução da nação, a vinda e rejeição do Redentor pela maioria dos judeus, sua morte e ressureição e o início da igreja cristã. Termina com profecias de eventos ocorrendo desde o início da igreja cristã até o encerramento da história da rebelião no Universo. Durante o período de teste para a humanidade, os seres inteligentes do Universo devem perceber a diferença entre viver sob a direção de Deus e fazer de sua lei a norma de vida e o viver sob o domínio da satisfação própria, em um contraste entre a lei do amor e a lei do egoísmo.

É bom lembrar que cada parte desse todo foi escrita por pessoas bem diferentes ao longo de muitos séculos e que, na maioria das vezes, não tinham uma visão clara do que elas mesmas estavam escrevendo. Outro detalhe é que fica difícil compreender a Bíblia por uma leitura ocasional, cada parte depende das outras e a compreensão dos símbolos proféticos depende da compreensão da história toda e do conhecimento dos símbolos que aparecem em outras profecias, ou seja, se você não mergulhar no todo, não vai entender as partes. Apocalipse, por exemplo, que é uma palavra grega que significa revelação (não um mistério, foi escrito para ser entendido), usa símbolos tirados do Gênesis, da história de Israel no Antigo Testamento, das profecias de Daniel, dos livros dos profetas menores e da história dos evangelhos e início da igreja cristã no Novo Testamento. Enfim, se a pessoa for ler com má vontade, preconceito e visão superficial, não vai entender e encontrará muitas contradições.

Mais uma observação que cabe neste momento é a de que a Bíblia pretende ser um conjunto de livros inspirados, mas não ditados, por Deus. Isto significa que as idéias subjacentes vieram de Deus, mas a linguagem é humana, expressa com as limitações culturais, de entendimento e de conhecimentos do autor de cada livro. Outro aspecto que se destaca indiscutivelmente ao longo da história bíblica é o fato de Deus lidar com os seres humanos levando em conta sua capacidade de absorver conceitos novos em cada época, ou seja, a revelação é gradativa e as responsabilidades também crescem com o grau de progresso do ser humano.

Tendo em conta as informações prévias, gostaria de apresentar, primeiramente, evidências de que as histórias da criação, da queda de Adão e Eva, do dilúvio e da torre de Babel que aparecem em Gênesis, fazem parte das tradições de diversos povos por todo o globo, muitas delas mais antigas do que a escrita do livro de Gênesis.

"Milhares de tabletes cuneiformes foram escavados na região que compreende a antiga Mesopotâmia.
Eram recibos, cartas, leis, documentos de propriedade, etc. Alguns continham listas genealógicas e histórias tradicionais sobre os primórdios da humanidade. Ao avaliá-los, qual não foi a surpresa dos arqueólogos ao perceberem que muitos traziam semelhanças bastante acentuadas com o que seria posteriormente escrito na Bíblia.

"Uma extraordinária coincidência foi percebida, por exemplo, na forma como os antigos documentos
egípcios e mesopotâmicos chamavam o primeiro ancestral da humanidade: Adamu, Adime, Adapa, Alulim, Alorus, Atûm, Adumuzi, etc. ...

"Ao contrário de ser um plágio, o Gênesis possui características de ser quase uma 'correção' daquilo que o antecede. Prova disso é o fato de que, dentre todos os textos, ele é o único que assume um monoteísmo clássico em meio a versões milenares que preferiam atribuir aos 'deuses' a obra de criação e julgamento do planeta Terra.

"Até mesmo Levi-Strauss que considerava o relato da criação um mito foi forçado a admitir que 'grande surpresa e perplexidade surgem do fato de que esses temas básicos para os mitos da criação são mundialmente os mesmos em diferentes áreas do globo', principalmente fora do Oriente Médio. (Claude Levi-Strauss, 'The Structural Study of Myth', em Structural Anthropology, (New York: Basic Books, 1963), p. 208.)" Rodrigo P. Silva, "Escavando a verdade - A arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia". São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 2008, p.p. 48 e 50.

Em textos sagrados muito antigos do Egito (~3000 a.C.), The Pyramid Texts (http://www.sacred-texts.com/egy/pyt/index.htm), Atum aparece como um deus, ele é considerado um dos deuses mais antigos do Egito. Ele foi primeiramente considerado um deus da terra e, depois, foi associado com Rá, o deus sol. Os sacerdotes da cidade de Heliópolis, consideravam Atum como o primeiro ser que emergiu das águas de Nun (espécie de águas primordiais) na criação. Entre seus filhos houve Set, que matou um de seus irmãos, Osíris (http://www.egyptianmyths.net/atum.htm). Embora existam muitas diferenças básicas entre estas concepções religiosas e a narrativa bíblica, encontramos similaridades em alguns pontos: na criação da vida na Terra, o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas (Gênesis 1:2), Adão foi o primeiro ser humano criado, o nome de um de seus filhos foi Sete, um dos filhos de Adão, que foi Caim e não Sete, matou seu irmão, Abel.

"Saindo do Egito para a Mesopotâmia, encontramos ainda outra grande variedade de mitos, com curiosas semelhanças com um ou outro aspecto da cosmogonia bíblica. O conto de Enki e Ninhursag, mais conhecido como o 'mito do paraíso', foi escrito por volta do 2º milênio a.C. Nele, os deuses criaram os céus, a Terra e os homens. Eles os colocam no paraíso idílico de Dilman e, para curar a costela de Enki, fazem surgir uma mulher e lhe dão o nome de Nin-ti, cujo signifcado seria 'rainha dos meses', 'senhora da costela' ou 'aquela que faz viver'. Ora, Eva também foi criada a partir de uma costela de Adão e seu nome hebraico (hawwa) é associada etmologicamente ao verbo 'viver'.

"O Enuma Elish é outro importantíssimo documento que também possui muitos paralelos com o relato bíblico. O texto foi primeiramente encontrado nas escavações da biblioteca real de Assurbanipal, que ficava na cidade de Nínive e data do 7º século a.C. Porém, outros fragmentos mais completos foram encontrados posteriormente em Kish. Ao todo são sete tabletes que descrevem a criação do mundo dividida em sete partes (como o Gênesis que a divide em sete dias)." Rodrigo P. Silva, "Escavando a verdade - A arqueologia e as incríveis histórias da Bíblia". São Paulo, Casa Publicadora Brasileira, 2008, p.p. 53 e 54.

Os relatos da criação nestes sete tabletes apresentam inúmeras semelhanças com o relato bíblico da criação. Por exemplo, os dois falam do sugimento do céu e da Terra, da pré-existência do espírito divino, de caos e trevas primitivas, a luz emanando dos deuses ou de Deus, criação do firmamento, da terra seca e dos luminares, criação do homem na sexta etapa ou sexto dia e dos deuses ou de Deus celebrando a criação na sétima etapa ou sétimo dia (ibidem).

Foram encontrados quatro tabletes cuneiformes sobre uma história tradicional da Mesopotâmia, três da biblioteca de Assurbanipal e um mais extenso e antigo (século 14 a.C.) dos arquivos egípcios de El Amarna. Segundo este relato, o primeiro homem chamado Adapa recebeu grande sabedoria, mas não era naturalmente imortal, ele era filho do deus Ea e morava na cidade de Eridu. Éden, o paraíso bíblico, e Eridu têm a mesma raiz etmológica, como o sumeriano Edin e Edenu, que significa "paraíso" ou "planura". O livro bíblico de Lucas também estabelece a genealogia humana a partir de Adão e que este procede de Deus (Lucas 3:38). Adapa vivia no meio dos Anunnakis,lembrando os anaquins, ou gigantes, mencionados na Bíblia. Ele quebra com a vela de seu barco a asa do vento sul e é julgado pelos deuses. Em seu julgamento, ele recusa-se a se alimentar da água e do pão da vida, pois sabia serem reservados aos deuses. O deus Anu o questiona por não ter comido ou bebido a água da vida, pois assim ele não poderia ter vida eterna, mas isto era um teste e ele é elogiado por isto. Ele recebe um manto para substituir o
primeiro que era da lamentação e é ungido com azeite. No Gênesis, Adão não deveria comer do fruto da árvore do bem e do mal para não morrer, ele seria, como Deus, conhecedor do bem e do mal (Gênesis 2:16 e 17, 3:1-5). Por ter desobedecido esta ordem ele perde o direito de comer da árvore da vida e viver eternamente (Gênesis 3:22-24). Adão e Eva fizeram para si vestimentas de folhas de figueira, mas Deus as substituiu por outras de peles de animais (Gênesis 3:7, 21). (Ibidem, p.p. 55 e 56).

Outro relato que apresenta similaridades com o bíblico é o épico babilônico de Gilgamesh, em que este herói sumeriano tem um amigo chamado Enkidu que é seduzido por uma cortesã da deusa Ishtar e passa a ter um "conhecimento pleno". Ishtar, então, declara: "Você agora é um conhecedor, Enkidu. Você será igual a Deus. Ela improvisa vestiduras e o veste com elas. (Ibidem, p. 56.)

Existem tradições e relatos acerca de um dilúvio semelhante ao da Bíblia nas mais diversas regiões do planeta. Nos relatos sumerianos, a versão mais antiga é a de um tablete bastante danificado que conta a história de Ziusudra que sobreviveu a uma imensa inundação que ocorreu sobre a Terra. O tablete número 11 do Épico de Gilgamesh (de uma tradição do segundo milênio antes de Cristo), conta que Gilgamesh tinha um amigo chamado Utnapishtim que conseguiu sobreviver ao Dilúvio. Ele foi avisado previamente pelo deus Ea sobre a inundação e deveria construir um barco de madeira e piche. Quando o barco ficou pronto entrou a bordo com seus tesouros, sua família, seus artesãos e os animais que havia recolhido. Ele fechou a porta e esperou a tempestade cair. Esta durou seis dias sem parar. No sétimo dia, o barco encalhou no topo do monte Nissir e ficou ali por mais seis dias. Depois, ele soltou uma pomba para ver se as águas haviam baixado, mas ela retornou; mais tarde, soltou um corvo que não retornou, pois havia
encontrado terra firme. Utnashpistim saiu do barco com os animais e companheiros e ofereceu um cordeiro aos deuses que respiraram a fumaça do sacrifício e se mostraram satisfeitos. Outra história semelhante, datada de 1646 a 1626 a.C., conta que Atrahasis foi avisado pelo deus Enki de que a Terra seria destruída por causa do barulho que os homens faziam, não permitindo que o deus Enlil descansasse em paz. Depois de serem enviadas pragas e fome veio um dilúvio. Atrahasis, sua família e vários tipos de animais sobreviveram através de um barco que ele construiu (Ibidem, p.p. 68, 69 e 70.)

No site da BBC (http://www.bbc.co.uk/ahistoryoftheworld/about/transcripts/episode16/), encontramos um relato interessante. Eis alguns trechos (traduzidos):

"É a hora do almoço no Museu Britânico e o local, como de costume, está agitado pelos visitantes. Naturais de Bloomsbury estão visitando como fazem regularmente por diversos motivos e, há cerca de 140 anos atrás, um destes nativos, um visitante da hora do almoço regular, era um homem chamado George Smith. Ele era um aprendiz em uma firma de impressão não distante do museu, e tinha se tornado fascinado pela coleção do museu de antigos tabletes de barro. Ele estava tão absorto neles, que educou-se para lê-los e, no devido prazo, tornou-se um dos principais tradutores de seu tempo. Em 1872, Smith estava estudando um tablete particular de Nínive (moderno Iraque) e isto é que desejo considerar agora.

"Caminhei pelo museu e estou agora sentado na biblioteca onde guardamos os tabletes de barro da Mesopotâmia; uma sala repleta de estantes desde o chão até o teto e, em cada estante, um estreito tabuleiro de madeira com uma dúzia de tabletes de barro nele - a maioria deles fragmentos. O fragmento que George Smith estava particularmente interessado, em 1872, tem cerca de 5 ou 6 polegadas (130 - 150 mm) de altura, é marrom escuro e está coberto com texto escrito muito densamente, organizado em duas colunas muito próximas. À distância, ele parece um bocado com pequenos anúncios de um antiquado jornal. Mas este fragmento, depois de George Smith perceber o que ele era, iria sacudir os fundamentos de uma das maiores histórias do Antigo Testamento, e, de fato, suscitou importantes questões sobre o papel das Escrituras e sua relação com a verdade.

"Nosso tablete é sobre um dilúvio - sobre um homem a quem foi dito por seu deus para construir um barco e carregá-lo com sua família e animais, porque a inundação estava prestes a apagar a humanidade da face da Terra. A narração no tablete era assombrosamente familiar a George Smith - porque quando ele leu e decifrou, tornou-se claro que o que ele tinha dinte de si era um antigo mito que era um paralelo e - mais importante - 'antecedia' a história de Noé e sua arca. ...

"Que uma história bíblica hebraica já tivesse sido contada em um tablete de barro mesopotâmico era uma descoberta estupenda - e Smith sabia-o - como um contemporâneo relata-nos:

" 'Smith tomou o tablete e começou a ler as linhas que o conservador que tinha limpado o tablete tinha trazido à luz; e quando ele viu que elas continham a parte da lenda que ele tinha esperado encontrar ali, ele disse: 'Eu sou o primeiro homem a ler isto após 2000 anos de esquecimento.' Colocando o tablete na mesa, ele saltou e correu pela sala em um grande estado de excitação e, para o espanto dos presentes, começou a despir-se!'

"Mas esta foi realmente uma descoberta digna de se tirar as roupas. Este tablete, agora universalmente conhecido como o Tablete do Dilúvio - tinha sido escrito no que é agora o Iraque no sétimo século a.C, 400 anos antes da mais antiga versão sobrevivente da narrativa bíblica. Seria concebível que essa narrativa bíblica, longe de ser uma reveleção especialmente privilegiada, era meramente parte de um conjunto de lendas que era compartilhado por todo o Oriente Médio?

"Este foi um dos grandes momentos de reescrita da história mundial no radical século desenove. George Smith publicou o tablete apenas 12 anos após o 'Origem das Espécies' de Charles Darwin. E ao fazer isto, ele abriu uma caixa de Pandora religiosa. O Professor David Damrosch, da Columbia University, avalia o sísmico impacto do Tablete do Dilúvio:

"'As pessoas nos anos de 1870 estavam obcecadas pela história bíblica, e houve grande quantidade de controvérsia quanto à veracidade das narrativas bíblicas. Assim, causou sensação quando George Smith encontrou esta antiga versão da história do dilúvio, claramente muito mais antiga do que a versão bíblica. O primeiro ministro Gladstone veio ouvir sua palestra descrevendo sua nova tradução, ela foi relatada em artigos de primeira página ao redor do globo, e houve um artigo de capa no 'New York Times' em 1872 em que já se notava que o tablete podia ser interpretado de dois modos muito diferentes - isto prova que a Bíblia é verdadeira ou mostra que ela é toda lendária? E a descoberta de Smith deu munição adicional ao debate de ambos os lados quanto à veracidade da história bíblica, debates sobre Darwin e evolução, geologia - todas estas coisas estavam ocorrendo."

Mas relatos sobre um dilúvio que inundou a Terra inteira fazem parte das tradições de, virtualmente, todas as culturas ao redor do globo (http://en.wikipedia.org/rewiki/Flood_myth; http://www.talkorigins.org/faqs/flood-myths.html#Pygmy).

Por exemplo, o site The TalkOrigins Archive apresenta um index por região de locais onde existem relatos sobre um dilúvio. (Neste site também podemos encontrar as narrativas por região.) As regiões incluem Europa: gregos, arcadianos, samotrácios, romanos, escandinávios, germânicos, celtas, galeses, lituanios, transilvanianos ciganos, turcos; Oriente Próximo: sumerianos, egípcios, babilônicos, assírios, caldeus, hebreus, islâmicos, persas, zoroastrianos; África: Camarões, Masai, Komililo Nandi, Kwaya (Lago Vitória), sudeste da Tanzânia, pigmeus, Ababua (norte do Zaire), Kikuyu (Quenia), Bakongo (oeste do Zaire), Bachokwe (sul do Zaire), Congo inferior, Basonge, Bena-Lulua (Rio Congo, sul do Zaire), Yoruba (sudeste da Nigéria), Efik Ibibio (Nigéria), Ekoi (Nigéria), Mandingo (Costa do Marfim)); Ásia: Vogul, Samoyed (norte da Sibéria), Yenisey-Ostyaks (centro norte da Sibéria), Kamchadale (nordeste da Sibéria), altaicos (Ásia central), tuvinianos (Soyot) (norte da Mongólia), Mongólia, Buryat (leste da Sibéria), Sagaiye (leste da Sibéria), russos, hindus, Bhil (Ìndia central), Kamar (distrito de Raipur, Índia Central), Assam, Tamil (sudeste da Índia), Lepcha (Sikkim), Tibet, Singpho (Assam), Lushai (Assam), Lisu (nordeste de Yunnan, China), Lolo (sudeste da China), Jino (sudeste de Yunnan, China), Karen (Burma), Chingpaw (Burma superior), China, Coréia, Munda (centro-norte da Índia), Santal (Bengala), Ho (sudeste de Bengala), Bahnar (China), Kammu (nordeste da Tailândia), Ilhas Andaman (Baía de Bengala), Zhuang (China), Sui (sudeste de Guizhou, China), Shan (Burma), Tsuwo (interior de Formosa), Bunun (interior de Formosa), Ami (Taiwan oriental), Benua-Jakun (Península Malaia), Kelantan (Península Malaia), Ifugao (Filipinas), Kiangan Ifugao, Atá (Filipinas), Mandaya (Filipinas), Tinguian (Luzon, Filipinas), Batak (Sumatra), Nias (uma ilha a oeste de Sumatra) Engano (outra ilha a oeste de Sumatra), Dusun (Borneo Norte Britânico), Dyak (Borneo), Ot-Danom (Borneo holandês), Toradja (Celebes central), Alfoor (entre Celebes e Nova Guiné), Rotti (sudeste de Timor), Nage (Flores); Austrália: Arnhem Land (norte do Território do Norte), Maung (Ilhas Goulburn, Arnhem Land), Gunwinggu (norte de Arnhem Land), Gumaidj (Arnhem Land), Manger (Arnhem Land), área do Rio Fitzroy (Austrália ocidental), Monte Elliot (costa de Queensland), Andingari (sul da Austrália), Wiranggu (sul da Austrália), Narrinyeri (sul da Austrália), Lago Tyres (Vitória), Kurnai (Gippsland, Vitória), sudeste australiano, Maori (Nova Zelândia); Ilhas do Pacífico: Kabadi (Nova Guiné), Valman (norte da Nova Guiné), Rio Mamberao (Irian Jaya), Samo-Kubo (Papua Nova Guiné ocidental), Papua Nova Guiné, Ilhas Palau, Carolinas ocidentais, Novas Hébridas, Lifou (uma das ilhas Loyalty), Fiji, Samoa, Nanumanga (Tuvalu, sul do Pacífico), Mangaia (Ilhas Cook), Raiatea (Grupo Leeward, Polinésia francesa), Taiti, Havaí; América do Norte: Innuit, Esquimó (Orowignarak, Alasca), Norton Sound Eskimo Central Eskimo, Tchiglit Eskimo (Oceano Ártico), Herschel Island Eskimo, Netsilik Eskimo (Groenlândia), Tlingit (costa sul do Alasca), Hareskin (Alasca), Tinneh (Alasca e sul), Loucheux (Dindjie, Alasca), Dogrib and Slave (tribos Tinneh), Kaska (ilha da Colúmbia Britânica do norte), índios Thompson (Colúmbia Britânica), Sarcee (Alberta), Tsetsaut, Haida (Ilhas Queen Charlotte, Colúmbia Britânica), Tsimshian (Colúmbia Britânica), Kwakiutl (Colúmbia Britânica), Kootenay (sudeste da Colúmbia Britânica), Squamish (Colúmbia Britânica), Bella Coola (Colúmbia Britânica), Lillooet (Green River, Colúmbia Britânica), Makah (Cape Flattery, Washington), Klallam (nordeste de Washington), Skokomish (Washington), Skagit (Washington), Quillayute (Washington), Nisqually (Washington), Twana (Puget Sound, Washington), Kathlamet, Cascade Mountains, Spokana, Nez Perce, Cayuse (Washington oriental), Yakima (Washington), Warm Springs (Oregon), Joshua (sul de Oregon), Smith River (norte da costa da Califórnia), Wintu (centro-norte da Califórnia), Maidu (Califórnia central), Northern Miwok (Califórnia central), Tuleyome Miwok (próximo a Clear Lake, Califórnia), Olamentko Miwok (Bodega Bay, Califórnia) Ohlone (San Francisco a Monterey, Califórnia), Kato (Mendocino County, Califórnia), Shasta (norte da Califórnia interior), Pomo (centro-norte da Califórnia), Salinan (Califórnia), Yuma (Arizona ocidental, sul da Califórnia), Havasupai (Colorado River inferior), Ashochimi (Califórnia), Yurok (norte da costa da Califórnia), Blackfoot (Alberta e Montana), Cree (Canadá), Timagami Ojibway (Canadá), Chippewa (Ontário, Minnesota, Wisconsin), Ottawa, Menomini (fronteira Wisconsin-Michigan), Cheyenne (Minnesota), Yellowstone, Montagnais (norte do Golfo de St. Lawrence), Micmac (leste do Canadá maritimo), Algonquin (Rio Ottowa superior), Lenape (Delaware) (Delaware até New York), Cherokee (Great Lakes área dos Grandes lagos; leste do Tennessee), Mandan (Dakota do Norte), Lakota, Choctaw (Mississippi), Natche (Mississippi inferior), Chitimacha (Louisiana do sul), Caddo (Oklahoma, Arkansas), Pawnee (Nebraska), Navajo (Four Corners area), Jicarilla Apache (nordeste do Novo México), Sia (nordeste do Arizona), Acagchemem (próximo a San Juan Capistrano, Califórnia), Luiseño (sul da Califórnia), Pima (sudoeste do Arizona), Papago (Arizona), Hopi (nordeste do Arizona), Zuni (Novo México); América Central: Tarascan (norte de Michoacan, México), Michoacan (México), Yaqui (Sonoran, norte do México), Tarahumara (norte do México), Huichol (México ocidental), Cora (leste do Huichols), Tepecano (sudeste do Huichols), Tepehua (leste do México), Toltec (México), Nahua (México central), Tlaxcalan (México central), Tlapanec (sul central do México), Mixtec (norte de Oaxaca, México), Zapotec (Oaxaca, sul do México), Trique (Oaxaca, sul do México), Totonac (leste do Mexico), Chol (sul do México), Tzeltal (Chiapas, sul do México), Quiché (Guatemala), Maias (sul do México e Guatemala), Popoluca (Veracruz, México), Nicarágua, Panamá, Caribe (Antilhas); 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Existem também vários documentos antigos e relatos semelhantes à história bíblica da Torre de Babel, em que a linguagem humana, que até ali era uma só, foi confundida e deu origem às diversas línguas. Alguns exemplos:

"Naqueles dias, as terras de Subur (e) Hamazi, Sumer possuidora de língua em harmônia (?), a grande terra dos decretos do principado, Uri, a terra tendo tudo que é apropriado (?), a terra Martu, repousando em segurança, o universo inteiro, o povo em unissono (?) para Enlil em uma língua [fala]. ... (Então) Enki, o senhor da abundância, (cujos) comandos são dignos de confiança, o senhor da sabedoria, que entende a terra, o líder dos deuses, dotado de sabedoria, o senhor de Eridu mudou a fala em suas bocas, [trouxe (?)] contenda para ela, na fala
do homem que (até então) tinha sido uma." ("The Babel of Tongues: A Sumerian Version" by Kramer, S.N., Journal of the American Oriental Society 88:108-11,1968 encontrado em: http://www.ancient-hebrew.org/36_babel.html)

"A ereção (construção) desta torre (templo) ofendeu muito a todos os deuses. Em uma noite eles (subverteram) o que o homem tinha construído, e impediram seu progresso. Eles foram dispersos e sua fala ficou estranha." ("Tells, Tombs and Treasures"; encontrado em: http://www.thehighway.com/flood_Wilson.html)

"Várias tradições similares à da Torre de Babel são encontradas na América Central. Uma diz que Xelhua, um dos sete gigantes salvos do dilúvio, construiu a Grande Pirâmide de Cholula para desafiar o Céu. Os deuses destruíram-no com fogo e confundiram a linguagem dos construtores. O Dominicano Diego Duran (1537-1588) disse ter ouvido este relato de um sacerdote com 100 anos em Cholula, pouco depois da conquista do México.

Outra lenda, atribuída pelo historiador nativo Don Ferdinand d'Alva Ixtilxochitl (c. 1565-1648) aos antigos Toltecas, diz que depois dos homens se terem multiplicado após um grande dilúvio, eles erigiram um alto zacuali ou torre, para se preservarem no caso de um segundo dilúvio. Contudo, as suas línguas foram confundidas e eles foram para diferentes partes da terra.

Outra lenda ainda, atribuída aos Índios Tohono O'odham ou Papago, afirma que Montezuma escapou a uma grande inundação, depois tornou-se mau e tentou construir uma casa que chegasse ao céu, mas o Grande Espírito destruiu-a com relâmpagos.

Rastos de uma história um pouco parecida também têm sido citados entre os Tarus do Nepal e do Norte da Índia (Relatório do Census de Bengal, 1872, p. 160); e de acordo com David Livingstone, os Africanos que ele conhecera e que viviam junto ao Lago Ngami em 1879 tinham uma tradição assim, mas com as cabeças dos construtores a serem "partidas pela queda do scaffolding [andaime]" (Missionary Travels, cap. 26)." (http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Babel)

Ethel R. Nelson, juntamente com outros autores, escreveu uma série de livros sobre a similaridade de histórias, conceitos e costumes da Bíblia com os mais antigos caracteres da escrita chinesa. Alguns destes livros são: "God and the Ancient Chinese", "God's Promise to the Chinese", "The Beginning of Chinese Characters", "Genesis and the Mystery Confucius Couldn't Solve". Para escrever o segundo livro, os autores examinaram as mais antigas inscrições feitas em ossos e carapaças de tartarugas, que são chamadas de "escrita de oráculos em ossos". Podemos encontrar algo das comparações destes símbolos chineses com idéias que aparecem no Gênesis no seguinte site: http://www.answersingenesis.org/creation/v20/i3/china.asp

Alguns exemplos: o símbolo antigo chinês para cobiça ou desejo é uma mulher entre duas árvores. Gênesis capítulo 3 conta a história de Eva comendo do fruto da árvore do bem e do mal porque aquele fruto era "desejável para dar entendimento" (Gên 3:6) e dando-o depois para seu marido. Como resultado, os dois tiveram de sair do jardim do Éden e deixar de comer do fruto da árvore da vida (Gên 3:22 e 23). Dificuldade ou problema é representado por uma área cercada com uma árvore dentro e uma coisa negativa ou um não é representado por uma serpente enrolada em duas árvores. Em Gênesis 3 foi uma serpente que enganou Eva acerca do fruto da árvore e como resultado ela e o marido tornaram-se suscetíveis à morte (perda do direito à árvore da vida), cansaço e doenças. O símbolo para justiça é a combinação de uma mão, uma lança, eu e um cordeiro ou carneiro. Nos rituais hebraicos do Antigo Testamento, as pessoas que cometiam uma injustiça e se arrependiam traziam um cordeiro ao sacerdote para ser imolado em lugar da pessoa culpada. Isto simbolizava que a transgressão tinha como penalidade a morte, mas Deus enviaria alguém como Ele mesmo (uma das pessoas da trindade), inocente, para morrer em lugar do transgressor e, por causa da inocência do substituto, essa pessoa seria considerada justa novamente. O signicado dos rituais do Antigo Testamento são expressos nos seguintes textos: "E como a sua oferta pela culpa, trará ao Senhor um carneiro sem defeito, do rebanho; conforme a tua avaliação para oferta pela culpa trá-lo-á ao sacerdote". Levítico 6:6. "Então imolará o cordeiro da oferta pela culpa e, tomando do sangue da oferta pela culpa, pô-lo-á sobre a ponta da orelha direita daquele que se há de purificar, e sobre o dedo polegar da sua mão direita, e sobre o dedo polegar do seu pé direito." Levítico 14:25. "Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver, que por tradição recebestes dos vossos pais, mas com precioso sangue, como de um cordeiro sem defeito e sem mancha, o sangue de Cristo" 1 Pedro 1:18 e 19. "Àquele que não conheceu pecado, Deus o fez pecado por nós; para que nele fôssemos feitos justiça de Deus." 2 Coríntios 5:21. Estes símbolos representam o que os reformadores do século 16, na Europa, chamaram de "justificação pela fé".

O site acima também comenta sobre uma cerimônia que remonta a 4000 anos, conhecida como Sacrifício Limite, que é relatada no Shu Jing (Livro de História), livro compilado por Confúcio, em que está registrado que o Imperador Shun (que governou desde cerca de 2256 a.C. até 2205 a.C) oferecia sacrifício a ShangDi. A Primeira Canção do Sacrifício Limite - para saudar a aproximação do espírito de SahangDi - dizia o seguinte: "Outrora no início, havia grande caos, sem forma e escuro. Os cinco elementos não haviam começado a se revolver, nem o sol ou a lua a brilhar. No meio (do caos) não havia forma ou som. Tu, ó Soberano espiritual, vieste em tua presidência e primeiro separaste as partes mais espessas das mais claras." (http://www.hyperhistory.net/apwh/essays/comp/cw03bordersacrifice.htm). É interessante a semelhança com Gênesis 1:1-4: "No princípio criou Deus os céus e a terra. A terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo, mas o Espírito de Deus pairava sobre a face das águas. Disse Deus: haja luz. E houve luz. Viu Deus que a luz era boa; e fez separação entre a luz e as trevas." Outras canções da cerimônia também apresentam paralelos com a Bíblia, quem se interessar pode consultar o site entre parênteses.

Bill Cooper escreveu um livro que foi publicado em março de 1995, "After the Flood". Em seu livro, ele traz o resultado de um estudo, que durou 25 anos, de textos contidos nos capítulos 10 e 11 de Gênesis, conhecidos como a "Tabela das Nações", em comparação com registros arqueológicos dos povos do Oriente Médio e genealogias e crônicas mais antigas dos
primeiros povos europeus. Os textos que aparecem abaixo foram extraídos do primeiro capítulo de seu livro: "O conhecimento de Deus entre os antigos pagãos".

"Para que possamos conduzir o assunto que estamos prestes a estudar em sua devida perspectiva, devemos primeiro admitir que muitos de nossos preconceitos com relação ao homem antigo estão equivocados. Comumente se supõe, por exemplo, que as nações do mundo tomaram conhecimento do Deus de Gênesis apenas depois que elas foram evangelizadas por missionários cristãos. Apenas desde a tradução das Escrituras, assume-se, elas tomaram conhecimento da criação e do Deus que a criou. Supõe-se ainda que o antigo homem pagão não podia ter qualquer conceito de uma divindade superior a um ídolo, porque é impossível chegar ao conhecimento de um verdadeiro Deus sem esse conhecimento ter sido dado através da direta revelação de Sua Palavra, e assim por diante. O pensamento popular parece nunca ter considerado a possibilidade de que o homem pagão
tinha, indubitavelmente, noção de Deus e de Seus atributos e poder, e que essa noção existiu e floresceu por séculos sem recorrer, em absoluto, às Escrituras. De modo que, é com alguma surpresa, que nos deparamos exatamente com isto, um profundo conhecimento e apreciação de um eterno e todo-poderoso Deus Criador, de Sua paternidade da raça humana e de Seus
infinitos atributos nos escritos de vários historiadores do mundo antigo e entre os ensinos dos mais antigos filósofos. ...

"Mas primeiro devemos entender algo da absoluta profundidade do conceito filosófico pagão do Deus verdadeiro único. Nos deparamos com ele em lugares tão distantes um do outro quanto o mundo é amplo, e entre culturas tão diversas social e politicamente como as da antiga Grécia e da China. Por exemplo, é dos escritos do taoísta Lao-tzé, que floresceu na China do século 16 a.C., que a profunda declaração seguinte a respeito da existência e de alguns dos atributos de Deus é tomada:

'Antes do tempo, e por todo o tempo, tem havido um ser auto-existente, eterno, infinito, completo, onipresente. Além deste ser, antes do início, não havia nada.' (Lao-tzu, Tao-te-ching, tr. Leon Wieger. English version by Derek Bryce. 1991. Llanerch Publishers, Lampeter. p. 13.) ...

"Embora, imperfeito como o conceito de Deus possa ter sido entre os antigos pagãos, ele era, todavia, muito real, frequentemente profundo, e pode ter-se fundamentado unicamente sobre um corpo de conhecimento que tinha sido presevado entre as raças antigas a partir de um ponto particular da história. Qual é esse ponto da história pode tornar-se evidente à medida em que nosso estudo prossegue e nos defrontamos com as famílias da humanidade dispersando-se ao redor do globo a partir de um único ponto. Mas que ele era profundo e, de muitos modos, inspirador, dificilmente pode ser negado, como o seguinte antigo texto de Heliópolis no Egito testifica:

'Eu sou o criador de todas as coisas que existem ...que procederam da minha boca. O céu e a Terra não existiam, nem haviam sido criadas as ervas do solo nem as coisas rastejantes. Eu as fiz surgir do abismo primitivo de um estado de não existência...' (Paráfrase do autor da tradução literal de Wallace Budge de 'The Gods of the Egyptians'. Vol. 1. Dover. New York. 1969. pp. 308-313.)...

"Por exemplo, entre os antigos gregos temos na Teogonia de Hesíodo (8º século a.C.) um relato da criação do mundo que mantém inequivoca e notavelmente íntimas similaridades como o relato de Gênesis:

'Primeiro de tudo o Vazio veio à existência ... em seguida a Terra ... Do Vazio surgiram as trevas ... e da Noite surgiu a Luz e o Dia ...' (Hesiod, Theogony, (tr. Norman Brown, 1953). Bobbs-Merrill Co. New York. p. 15.)

"E todavia é imediatamente óbvio a partir da leitura de toda a Teogonia que Hesíodo não obteve esta informação do livro de Gênesis. Isto é evidente a partir de sua degradante visão só do Criador. ... Xenófanes, por exemplo, que viveu cerca de dois séculos depois de Hesíodo, mantinha uma visão totalmente mais sublime do Criador e em uma passagem muito inspiradora busca restaurar o equilibrio teológico:

"Homero e Hesíodo atribuiram aos deuses todas as coisas que entre os homens são vergonhosas e censuráveis - roubo e adultério e mútuo engano ...[Mas] existe um Deus, o maior entre os deuses e homens, não semelhante aos mortais em forma ou pensamento ... ele vê como um todo, ele pensa como um todo, ele ouve como um todo ... Ele permanece sempre no mesmo estado, não mudando em absoluto ... Mas longe de se atarefar ele governa tudo com sua mente.' ( Barnes, Jonathan. 1987. Early Greek Philosophy. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 95-97.) ...

"Tales de Mileto (ca 625-545 a.C.) é comumente considerado como tendo sido o primeiro filósofo materialista entre os gregos. ... Mas contra isto deve-se apresentar os aforismas que são atribuídos por outros a Tales, tais como: 'Das coisas existentes, Deus é a mais antiga - pois ele não foi gerado. O mundo é a mais bela, pois é criação de Deus ... A mente é a mais rápida, pois percorre tudo ...' (Barnes, Jonathan. 1987. Early Greek Philosophy. Penguin Classics. Harmondsworth. p. 68.) ...

"[Platão] pinta-nos um quadro das condições das coisas em seus próprios dias, mas fala dos materialistas como se eles fossem uma improvável nova geração de pensadores que tinham recém chegado em cena:

'Algumas pessoas, eu creio, explicam todas as coisas que vieram a existir, todas as coisas que estão vindo a existência agora, e todas as coisas que assim o farão no futuro, atribuindo-as ou a natureza, a arte ou ao acaso.' (Plato. The Laws, (tr. Trevor Saunders, 1970). Penguin Classics. Harmondsworth. p.416.)


" ... prossegue dizendo-nos como esses pensadores definem os deuses como 'conceitos artificiais'e 'ficções legais'. Ele cita a tendência para o que ele considerava ser 'uma doutrina perniciosa' que 'deve ser a ruína da geração mais jovem, tanto no estado em geral como nas famílias particulares'. (Plato. The Laws, (tr. Trevor Saunders, 1970). Penguin Classics. Harmondsworth.Plato. The Laws, (tr. Trevor Saunders, 1970). Penguin Classics. Harmondsworth. p.417.) ...

"Um estóico posterior, o romano Cícero, devia dar ao conceito [criacionista] talvez a sua mais alta expressão nos tempos pré-cristãos, e suas palavras são dignas de citação, em pequena extensão:

"Quando se vê um relógio de sol ou um relógio de água, vê-se que ele diz a hora por projeto e não por acaso. Como então se pode imaginar que o universo como um todo é vazio de propósito e inteligência quando ele abrange tudo, inclusive estes artefatos e seus artífices? Nosso amigo Possidônio, como se sabe, recentemente fez um globo que em suas revoluções mostra os movimentos do sol, das estrelas e dos planetas, de dia e de noite, como eles aparecem no céu. Então, se alguém tomasse este globo e mostrasse-o ao povo da Bretanha ou da Cítia, algum destes bárbaros deixaria de ver que ele era o produto de uma inteligência consciente?' (Cicero, On the Nature of the Gods, (tr. Horace McGregor, 1988). Penguin Classics. Harmondsworth. p. 159.)"

Embora ficasse muito extenso transcrever aqui a imensa quantidade de evidências documentadas que existem de que conceitos e histórias bíblicas permeiam as narrativas, crenças e tradições de todas as culturas pré-bíblicas ao redor do planeta, acredito que esta amostra já seja suficiente para os que a examinarem sem preconceitos.

É difícil imaginar povos ao redor do mundo antigo trocando informações tão eficientemente a ponto de influenciarem-se uns aos outros com suas narrativas de eventos passados. Muito mais razoável seria supor que esses povos descendem de pessoas que viviam inicialmente em uma mesma região geográfica e compartilhavam contos e crenças. Por sinal, isso está de acordo com as afirmações bíblicas sobre o passado da humanidade.

Um conceito que pretendo explorar na continuação deste tema, é a questão do significado de mistério no contexto bíblico (algo que ainda não é entendido) em relação ao conceito de mistério místico (algo que é inacessível).

As questões que eu gostaria de deixar aqui para reflexão são as seguintes: É razoável supor que a existência de registros tão antigos e tão amplamente espalhados pelo planeta de conceitos e histórias bíblicas indiquem que há fatos por trás dos detalhes contidos neles? É totalmente racional excluir esta possibilidade?