segunda-feira, 4 de julho de 2016

A Terra da Filosofia, a Matemática e a Grande Barca


Autor: Eduardo F. Lütz

Havia uma cidade em uma região chamada Filosofia.

Para os cidadãos daquele lugar, Filosofia era tudo o que existia. Para onde quer que fossem, estavam em Filosofia. Construíam casas, plantavam, colhiam, passeavam pelos arredores da cidade e tinham a impressão de que as terras de Filosofia não tinham fim.

As Grandes Descobertas

Algumas pessoas com espírito de aventura começaram a sair pelos arredores, indo cada vez mais longe, a fim de melhor conhecer Filosofia. Alguns voltaram dizendo coisas intrigantes. Descobriram uma grande muralha que parecia não ter fim. Outros descobriram indícios de que havia muita água por debaixo do solo e que em qualquer lugar seria possível cavar um poço e encontrar água. O povo de Filosofia chamava a água de matemática. Curiosamente, eles chamavam também os poços de matemática, se bem que quando faziam isso referiam-se a características da água e não dos poços.

Até então, pensava-se que Filosofia se estendia sem limites e que água só poderia ser encontrada em locais muito específicos, nos quais haviam sido cavados poços. A água era últil para beber e lavar roupas. O povo não percebia que era a água que alimentava também suas plantações, seus animais e as árvores de onde obtinham frutos e madeira para construir casas.

Havia cópias de textos antigos reunidos em um livro chamado de Diários dos Pioneiros. Esses textos falavam de engenheiros que usaram uma tecnologia muito sofisticada para construir Filosofia e depois trouxeram colonos para povoar o local. Além de falar desses eventos, os Diários também falavam de regras de segurança, convívio e saúde.

Muitos duvidavam da autenticidade desses textos porque não acreditavam em tecnologias tão complexas e as interpretações mais aceitas de alguns trechos importantes pareciam-lhes absurdas. E, quanto a tecnologias avançadas, se elas estavam disponíveis no início, por que não estariam atualmente? Os Diários falavam de uma revolta que impediu que os engenheiros ensinassem tecnologias avançadas aos pioneiros e forçou-os a se retirarem, mas os detalhes estavam espalhados pelos Diários, de forma que a maioria das pessoas ignorava tais explicações.

Embora a maioria das pessoas não notasse, os Diários falavam em coisas além de Filosofia. Mencionavam que pessoas viajaram e passaram sobre muralhas que ficam além das muralhas de Filosofia. Também diziam que a água dava suporte a Filosofia. Os estudiosos dos Diários diziam que isso significava que água era algo importante para que as pessoas não morressem de sede.

Alguns curiosos, intrigados com esse tipo de texto, decidiram saber mais sobre matemática (água e poços). De alguma forma, isso teria sido fundamental para os pioneiros construírem Filosofia. Logo, seria importante estudar o assunto para saber mais sobre como os pioneiros pensavam e como foram capazes de construir Filosofia. Até então, os matemáticos (especialistas em poços e água) limitavam-se a encontrar maneiras mais eficientes de tirar água dos poços. As novas ideias abriram interessantes perspectivas para seu trabalho.

Exploradores decidiram investigar a profundidade das águas nos poços e concluíram que não era possível encontrar o fundo. Mais do que isso, descobriram que se um poço fosse cavado com profundidade suficiente, a partir de certo ponto o poço não parecia ter paredes.

Os matemáticos perceberam que precisavam desenvolver técnicas que permitissem a exploradores mergulhar e viajar sob a água a fim de poder melhor explorar poços. Um matemático chamado Natan resolveu iniciar um projeto assim, mas percebeu que precisaria de um grande tanque transparente cheio de água. Natan não tinha tanta água assim, mas lembrou-se de que havia água nos poços, a qual podia ser extraída e colocada em seu tanque. Com isso ele pode desenvolver os primeiros protótipos de equipamentos de mergulho e fazer os primeiros testes.

Exploradores começaram a utilizar e aperfeiçoar cada vez mais os equipamentos de mergulho. Não foram muito longe nas primeiras tentativas. Os rumores pareciam se confirmar: após uma certa profundidade, parecia-se estar em uma câmara gigantesca, da qual não se podiam ver as fronteiras. Olhando-se para cima a partir desse local, via-se uma estrutura que suportava as terras de Filosofia, pelo menos nas imediações em que ocorriam os mergulhos. A ideia de que Filosofia fora fundada sobre a água ganhou novo fôlego.

Com a experiência obtida nos mergulhos, alguns decidiram esforçar-se mais e construir uma espécie de submarino, que lhes permitisse ir mais longe e explorar aquela câmara de água subterrânea. Com o tempo, muito esforço e após muitas tentativas fracassadas, conseguiu-se finalmente construir um submarino capaz de alcançar boas velocidades viajando sob a água. Essas coisas precisavam ser feitas bem longe da cidade para não causar transtornos aos cidadãos e eliminar o risco de danificar alguma propriedade.

Boom no Conhecimento é ignorado

A maioria das pessoas que viviam em Filosofia não ficou sabendo do que se passava e continuou com suas atividades normais sem perceber que uma revolução no conhecimento estava acontecendo. Outros ouviram rumores, mas entenderam apenas que um grupo de curiosos gostava de explorar poços e acharam isso um tanto sem graça e sem propósito. Poços fornecem água para satisfazer algumas necessidades específicas e isso basta. Além disso, água não é algo particularmente gostoso. Intelectuais diziam: "Por que investir tanto esforço para olhar o que há dentro de poços? Sabemos o que há lá: água. O esforço seria melhor empregado plantando-se novas lavouras."

Chegou o grande dia de estrear o submarino. Ele foi colocado em um grande poço preparado para isso às custas de muito trabalho e engenhosidade. Algums exploradores especialmente treinados entraram no submarino. O aparelho começou a descer. O ambiente ficava cada vez mais escuro. Os exploradores ligaram as luzes do aparelho e continuaram descendo por aquele túnel vertical. Após um certo ponto, o submarino emergiu da extremidade inferior do túnel.

Após descer um pouco mais para evitar que o veículo colidisse com algo da base de Filosofia, iniciou-se uma viagem horizontal. Após algumas horas, notaram que o ambiente já não parecia tão escuro. A tripulação desligou as luzes e olhou para cima. Realmente, parecia haver uma vasta região iluminada. Iniciaram a subida e o ambiente ficava cada vez mais claro.

Chegaram à superfície da água, abriram a escotilha e foram para a parte de cima do submarino para ver melhor o que haviam encontrado. Estavam em um vasto oceano que não parecia ter fim. Olhando para o ponto de onde vieram, notaram uma gigantesca embarcação. Filosofia era uma barca gigante! Aquela água dos poços, que todos pensavam vir de uma fonte limitada, talvez um reservatório subtarrâneo, era só uma manifestação de algo muito maior do que Filosofia. Aquela água era parte de um oceano que sustentava Filosofia e que estendia-se de horizonte a horizonte. A expressão dos Diários que falava da água como sustentando Filosofia parecia muito mais clara e significativa agora. A maioria dos estudiosos dos Diários nunca ficou sabendo disso e continuou supondo que isso era apenas uma referência ao fato de que a água dos poços matava a sede.

Novas Tecnologias

Diversas outras viagens foram feitas, algumas para explorar os limites e a forma de Filosofia quando vista de fora, de longe, de perto e de baixo, para explorar a profundidade do oceano, para buscar outras embarcações semelhantes a Filosofia, e assim por diante. Nessas buscas, os exploradores descobriram coisas novas nas águas profundas, materiais úteis que poderiam usar em Filosofia. Até novas fontes de alimento foram descobertas. Seria possível viver ricamente desses alimentos e materiais sem retornar a Filosofia. Seria possível até construir novas embarcações que permitissem vida confortável, embora o esforço necessário para isso fosse grande demais naquela época. Para a maioria do povo que ignorava tudo isso, porém, Filosofia continuava a ser tudo o que existia e importava e poços ou água eram apenas um recurso limitado encontrado em locais muito específicos. Filosofia continuava sendo sinônimo de mundo para eles.

Revolução Conceitual

Para os exploradores da água, porém, isso não mais parecia adequado. Confundir poço com água não faz sentido algum considerando-se que a maior parte da água está em um vasto oceano que nada tem a ver com poços. Também decidiram parar de usar o nome de Filosofia como se fosse sinônimo de mundo, pois da perspectiva dos exploradores da água, Filosofia era apenas uma região que parecia extremamente pequena quando observada de um ponto mais distante na imensidão do mar. E, indo um pouco mais longe, sequer era possível ver Filosofia.

Refinar a linguagem facilitou muito a vida dos exploradores ao conversar entre si, mas ao falarem com o resto do povo, era necessário escolher entre usar a linguagem popular, que induzia ideias equivocadas, ou dar muitas explicações sobre a natureza de Filosofia, a abrangência da água e a diferença entre poço e água. A quase totalidade das pessoas, incluindo curiosos e exploradores que não participavam das excursões de submarino, ainda ignorava a existência do oceano (conceito que não fazia sentido para eles), muito menos seria capaz de entender e acreditar que Filosofia seria uma barca a flutuar nesse oceano.

O povo passou a usar coisas que exploradores construíram a partir de materiais encontrados no oceano. Também passaram a ter maior quantidade e qualidade de alimentos graças aos novos recursos encontrados durante as explorações oceânicas. Acreditavam, porém, que tudo aquilo era proveniente de alguma região de Filosofia. Se alguém dissesse que aquelas coisas vinham do oceano, entendiam que oceano era um poço situado em alguma região de Filosofia.

Quando exploradores falavam de sua percepção de Filosofia em função de suas aventuras no oceano, as pessoas entendiam que eles estavam falando de pequenos mergulhos em poços e que isso era algo muito restrito para gerar qualquer conclusão a respeito de Filosofia como um todo. Assim, acabavam descartando quase tudo o que os exploradores da água diziam. Intelectuais de Filosofia escreviam sobre a exploração de poços e argumentavam que era impossível obter uma visão panorâmica de Filosofia quando se está confinado ao interior de um poço. Segundo eles, bastaria sair um pouquinho do poço e olhar ao redor para notar o fato óbvio de que matemática é algo muito mais restrito do que as terras ilimitadas de Filosofia.

Com o tempo, os exploradores que haviam construído submarinos, descobriram no oceano materiais que lhes permitiram construir aviões, podendo não apenas obter uma visão aérea de Filosofia, mas viajar para mais longe e explorar novas regiões distantes do oceano com maior facilidade. Com isso, descobriram novas fontes de riquezas que foram trazidas para melhorar a vida dos habitantes de Filosofia. Algumas pessoas sem escrúpulos usaram alguns desses novos materiais para construir armas e fazer coisas que geravam muito lixo. De vez em quando, colocava-se a culpa nos exploradores por isso.

Debate sobre a Origem

Havia exploradores da água que acreditavam nos Diários e começaram a notar que vários trechos falavam em Filosofia como um ambiente limitado e que havia pessoas morando em lugares além de Filosofia. Pela forma como isso era mencionado, perceberam que provavelmente havia outras barcas semelhantes a Filosofia e mais antigas do que ela em locais muito distantes do oceano. Eles estudavam também os detalhes das estruturas que existiam na base de Filosofia e notaram que muitos trechos dos Diários faziam referências a eles. Tais referências eram geralmente ignoradas porque falavam de coisas que não faziam sentido para a maioria das pessoas, incluindo os estudiosos profissionais dos Diários.

Estudiosos profissionais dos Diários dos Pioneiros procuravam extrair deles toda informação possível. Por causa do perfil das pessoas que normalmente se dedicavam a essa área, concentravam-se mais nas regras de convivência, saúde e segurança, as quais realmente possuíam aplicação mais imediata para a população. Havia um trecho famoso que falava sobre o planejamento e a construção de Filosofia por engenheiros com grande conhecimento de tecnologias avançadíssimas. Esse texto dizia que Filosofia havia sido construída em um local previamente inóspito, que sementes foram plantadas em seu solo, poços foram cavados e encheram-se de água e depois foram trazidos colonos para habitá-la. Os Diários foram escritos por pioneiros, que afirmaram ter podido conversar com os engenheiros e tido a oportunidade de tomar notas do que eles haviam dito. Embora os pioneiros fossem pessoas simples, disseram ter feito seu melhor para anotar da forma mais fiel possível o que ouviram, ainda que algumas expressões não fizessem sentido para eles.

A maioria dos estudiosos dos Diários interpretava que os engenheiros encontraram uma terra hostil, possivelmente muito rochosa e irregular, e a prepararam para que pudesse ser habitada. Muitos estudiosos também diziam que a expressão "encheram-se os poços" significava que os engenheiros despejaram grande quantidade de água nos poços e que ela teria ficado armazenada em câmaras subterrâneas, anteriormente vazias.

Havia quem duvidasse dos Diários. Para onde teriam ido os engenheiros após construir Filosofia e por que razão o povo não mais tinha acesso a tecnologias tão avançadas? Aliás, toda essa história de tecnologias avançadas parecia um conto de fadas. Tal coisa provavelmente nunca existira.

Origem dos Habitantes de Filosofia

Alguns suspeitavam que o povo de Filosofia era originário dali mesmo. Havia muitos tipos de plantas estranhas em Filosofia. Talvez alguma delas, que poderia estar extinta, pudesse ter gerado pessoas como se fossem seus frutos. Isso simplificaria as coisas e não mais seria necessário apelar-se à ideia de engenheiros com tecnologias avançadas trazendo pessoas de algum lugar que não existe. Muito menos seria necessário seguir as regras supostamente decretadas pelos engenheiros. Plantas gerando frutos e sementes eram algo conhecido e mais provável do que engenheiros de fora de Filosofia com tecnologias inimagináveis. Aliás sequer faria sentido falar-se em "fora de Filosofia", já que Filosofia abrangia tudo o que existia.

Intrigado com a possibilidade de origem local dos habitantes de Filosofia, um curioso chamado Dórian saiu a investigar plantas exóticas. Isso foi antes dos aviões, porém após o início das explorações submarinas, que já estavam bastante avançadas na época. Dórian nunca viajou de submarino porque era claustrofóbico. Não acreditava em oceanos, apenas em poços e, possivelmente, câmaras subterrâneas de água. Mesmo assim, achava absurda a ideia de que os engenheiros teriam enchido os poços com água em algum momento e portanto uma interpretação literal dos Diários não seria algo confiável. Os reservatórios de água subterrânea provavelmente sempre estiveram lá.

Em sua viagem exploratória, descobriu uma espécie de planta que gerava uma grande semente. Abrindo-se essa semente, observava-se algo com um formato parecido com um feto humano. Dependendo da época, as sementes produzidas possuíam um conteúdo com formato um pouco diferente, distanciando-se ou aproximando-se mais do formato de um feto. Dado tempo suficiente, pensou Dorian, esta planta provavelmente produzirá uma semente contendo exatamente um feto humano. Deve ser um fenômeno raro, mas acontece. Se pudéssemos esperar tempo suficiente, provavelmente veríamos muitos humanos nascendo deste tipo de planta.

Tais ideias causaram vaias e aplausos entre o povo de Filosofia. Uns diziam que Dórian estava indo contra a sabedoria dos engenheiros e pioneiros. Outros ficaram felizes em não mais precisar seguir regras antigas. Com o tempo, a ideia de Dórian passou a ser aceita por quase todos os intelectuais respeitados, e ideias sobre detalhes do processo de geração de humanos a partir de sementes começaram a ser imaginados. Entre as evidências, os intelectuais falavam de como sementes pequenas podem gerar grandes árvores com características bem diferentes das sementes que lhes deram origem. As sementes eram pequenas e arredondadas, mas as árvores eram grandes, cheias de galhos e folhas. Portanto, uma semente poder gerar algo bem diferente de si mesma seria algo natural e provavelmente essa seria a origem dos habitantes de Filosofia.

Naturalistas e Planejamentistas

As estruturas engenhosas que sustentavam Filosofia, vistas logo nas primeiras viagens de submarino, passaram a ser ignoradas. Os planos de viagens submarinas ainda as levavam em conta para evitar colisões, mas sem mencionar seu significado e formato exatos. Os exploradores acostumaram-se a passar distraidamente pelo local pensando apenas em seu destino final.

A ideia de que Filosofia era uma estrutura que flutuava em um vasto oceano nunca foi popular até porque a maioria das pessoas não fazia ideia do que isso significava. Entre intelectuais, houve muita resistência a princípio, até porque ficava difícil descartar a existência dos engenheiros naquele cenário. Com o tempo, porém, testemunhos de exploradores da água e evidências se acumularam e os intelectuais buscaram maneiras de aceitar esse fato sem precisar recorrer à ideia de engenheiros com tecnologias avançadas. Segundo eles, o conhecimento precisava apoiar-se em fatos atuais e locais, sem nunca mencionar entidades de fora de Filosofia. Não percebiam o quanto isso contradizia o próprio conceito de oceano.

Por fim, a ideia de estrutura flutuante foi aceita pela maioria dos intelectuais, após imaginarem maneiras pelas quais materiais poderiam haver se unido espontaneamente no oceano para formar Filosofia.

A diversidade de crenças sobre a origem de Filosofia continuou a existir, mas cada vez menos pessoas cria ser literal o trecho dos Diários que falava sobre a construção do local realizada por engenheiros. Muitos exploradores que viajavam de submarino passaram a apoiar a ideia de Dórian. Eles citavam o fato de que a água de Filosofia era apenas manifestação de um grande oceano, muito maior do que Filosofia. Os poços eram apenas aberturas que permitiam acesso à água do oceano e que não faria sentido alguém precisar despejar água neles. Portanto, a ideia de que alguém preparou Filosofia para ser habitada era muito improvável. Este era o famoso argumento do oceano.

Os que criam que Filosofia se formou com base somente em fenômenos naturais eram chamados de naturalistas. Os que criam que Filosofia fora planejada e construída por engenheiros eram chamados de planejamentistas.

A maioria dos planejamentistas dizia que havia sido feita terraplanagem de um local inóspito, irregular e pedregoso, o solo havia sido então arado, depois haviam sido plantadas sementes úteis, depois poços foram cavados e muita água fora despejada neles. Depois disso, os pioneiros haviam sido trazidos. Um trecho dos Diários dizia claramente que "poços foram cavados e encheram-se de água" e muitos estudiosos afirmavam que essa expressão, na linguagem antiga, significava que água havia sido despejada nos poços.

A maioria dos planejamentistas contestavam o argumento do oceano dizendo que esse tipo de ideia baseava-se em pessoas desequilibradas que mergulhavam em poços e depois inventavam teorias absurdas, chegando até a falar em oceanos, máquinas voadoras e sementes que geram humanos. Não se poderia confiar em pessoas assim. Para estes, submarinos eram excentricidades sem propósito e aviões e oceanos eram meras especulações. Para eles, os Diários afirmavam claramente que água havia sido despejada nos poços e eles preferiam crer no relato de quem viu acontecer do que em especulações de lunáticos.

Havia exploradores planejamentistas que reconheciam que o argumento do oceano possuía um elemento de verdade: a ideia de que alguém precisou despejar água nos poços realmente não fazia sentido algum. Os poços seriam preenchidos com água automaticamente se alguém cavasse um poço suficientemente profundo. Apesar disso, eles não concordavam com os naturalistas, pois observando Filosofia por baixo, observavam claramente estruturas engenhosamente construídas para sustentar Filosofia.

Este grupo de planejamentistas não cria que haviam terras áridas e inabitáveis no início, mas apenas um oceano. Os Diários não falavam em terras áridas, mas em local inabitável. Os pioneiros teriam construído um grande navio a partir de materiais do oceano, criando um ambiente habitável nessa embarcação. Entendiam o texto que dizia que os poços encheram-se de água como sendo literais, mas significando que a água veio de baixo, do oceano, assim que os poços foram cavados. Ao usar esse tipo de argumento para convencer a outra ala de planejamentistas, frequentemente ouviam a resposta de que eles estavam apenas tentando reinterpretar os textos antigos para adequar-se a sua preferência pessoal e seu gosto por ideias mirabolantes que incluíam aviões, oceanos e sementes que geram pessoas. Note-se que os planejamentistas que viajavam pelo oceano não criam em sementes que geram pessoas, mas eram vistos como se cressem assim pelos demais planejamentistas, que achavam que viajar de submarino e avião testemunhando fatos era a mesma coisa que fazer extrapolações ao observar sementes com formato curioso. Para a maioria das pessoas essas eram atividades do mesmo tipo.

Com o tempo, a maioria da população aceitou a ideia de Dórian e passou a crer que os pioneiros nasceram de sementes, não entenderam o processo e inventaram fábulas sobre como teria sido sua origem. Muitos diziam acreditar em partes dos Diários, mas poucos conheciam de fato seu conteúdo.

Apesar das grandes descobertas, para o povo e para os intelectuais de Filosofia, incluindo a maioria dos estudiosos dos Diários, poços continuam sendo limitados, submarinos são desperdício de esforço e aviões são meras especulações: não pode existir algo assim. A ideia das sementes que geraram pessoas é bastante bem aceita pela maioria das pessoas, incluindo muitos estudiosos dos Diários, que entendem os trechos sobre construção de Filosofia como alegorias. E a controvérsia sobre as origens permanece, cada um propondo seus argumentos e ignorando as réplicas ou tratando-as de maneira simplista.

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