À medida em que o tempo passa e observo mais a vida das pessoas em nosso mundo - porque com 50 anos já consegui observar um pouco a evolução de muitas vidas individuais - percebo que a coisa mais triste não é nem a falta de amor entre as pessoas, a guerra, a fome, a miséria e as catástrofes. O que existe de mais triste neste mundo é o que as próprias pessoas fazem a si mesmas. Outras pessoas podem nos ferir com palavras, com atos ou até fisicamente, mas elas não têm o poder de destruir nosso ânimo, nosso íntimo, se não consentirmos que elas façam isso, somos nós que permitimos que nossa mente nos torture com o que os outros fazem. O que não nos damos conta é que, no fim da vida, tudo o que fizemos habitualmente, pensando em agradar a nós mesmos, não será simplesmente o que vai causar
nossa morte - porque todos morrem - mas será o que vai nos tornar pedaços de seres humanos incompletos arrastando uma vida miserável antes de morrer.
As pessoas não param muito para observar os velhinhos nos asilos e nos hospitais e, na verdade, mesmo quando eles são parentes, não se pensa muito sobre o que fez com que eles perdessem os movimentos, o coração, a memória, a perna, os olhos, os pulmões, os rins, o fígado, o senso crítico, o juízo e, muitas vezes, tudo o que eles já foram um dia! É como se tudo isso fizesse parte do envelhecer de outros e não fosse acontecer conosco. A verdade é que nossos hábitos estão nos levando para uma velhice desse tipo e, quando acontecer conosco, não teremos mais condições de avisar os outros para que possam evitar os erros que cometemos, ninguém mais vai nos ouvir e, possivelmente, nem vamos mais ouvir a nós mesmos! Todos os dias tenho visto pessoas despedaçadas que não têm mais força nem capacidade para se ajudarem, são como brinquedos quebrados jogados num canto.
Você já parou para pensar sobre o porquê de as pessoas terminarem assim e por que este é o destino mais provável de quem vive neste mundo? Outro dia estava lendo em um livro escrito por um médico [1] sobre coisas que podem danificar o lobo frontal de nosso cérebro. Só para esclarecer, o lobo frontal define quem somos, nossa capacidade de decidir, raciocinar e tomar decisões. O autor descreve um lista de coisas que fazemos que podem danificar nosso lobo frontal e fazer com que nos tornemos, pouco a pouco, menos conscientes, menos capazes de avaliar e tomar decisões acertadas. Ele cita diversas pesquisas que demonstram que o uso de drogas ilegais, nicotina, cafeína, bebidas alcoólicas, carnes e queijos, por exemplo, causam danos ao lobo frontal. Certos hábitos também podem ter este efeito, tais como assistir por várias horas programas de televisão em que as cenas demoram menos de 30 s para serem trocadas, causando um estado meio hipnótico no telespectador, por não permitir tempo suficiente para serem analisadas pelo lobo frontal, também o ouvir certos tipos de música com ritmos mais agressivos. Por outro lado, outros hábitos e alimentos podem reforçar a capacidade do lobo frontal, tais como ouvir música clássica, praticar exercícios e ingerir carboidratos de vegetais integrais e frutas. Várias doenças mentais têm como causa ou agravante danos no lobo frontal; entre estas está a depressão. Os hábitos, substâncias e alimentos mencionados acima podem ajudar a causar ou agravar a depressão ou ajudar a evitá-la e/ou curá-la, dependendo de quais escolhermos. A depressão, por sua vez, está envolvida em inúmeras outras doenças: demências, infecções, enxaqueca, esclerose múltipla, doença de Parkinson, tumores, derrames, diabetes, hiper e hipotireoidismo, hiper e hipocalcemia, influenza, mononucleose, pneumonia, artrite reumatóide, lupus eritematoso sistêmico, tuberculose, anemia, apneia, câncer, etc.
Não é incrível que as próprias coisas que a pessoas fazem para preservar seu bem-estar e liberdade são as que as fazem perdê-los mais rápido? Comer o que parece mais gostoso para o apetite mal-acostumado, ouvir e assistir o que desperta nossas emoções e sentidos e não nosso bom senso, até mesmo permitir que nossos sentimentos mais institivos, como raiva, medo, inveja, preguiça e cobiça nos dominem, tudo isso faz com que nossa qualidade de vida e nossa capacidade de discernir bem se enfraqueçam. O resultado vamos sentir aos 60, 70 ou 80 anos, dependendo de quanto nossos antepassados enfraqueceram a carga genética que nos doaram. Quantos se orgulham de sua posição e realizações pessoais, quantos se julgam inteligentes ou importantes, quantos não pensam no dia depois de amanhã?
Quando chega a doença e a velhice, a voz, a mente e o corpo se tornam muito fracos para advertir as próximas gerações e, mesmo que eles pudessem fazê-lo, quantos ouviriam? A pessoa nem mesmo têm consciência clara do que está acontecendo com ela. Tenho visto muito frequentemente pessoas aos pedaços, mal subsistindo e, descubro que aqueles fragmentos humanos foram médicos, advogados, juízes, empresários, assim como operários, donas de casa, empregadas domésticas. Não importa quem você seja ou tenha sido, porque quando os hábitos cobram seu preço, todos se tornam apenas sombras daquilo que um dia foram. E podem culpar apenas a si mesmos.
[1] Como Sair da Depressão - Prevenção, tratamento e cura. Neil Nedley.
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